No
Brasil, o sistema de voto vigente é o obrigatório, sendo que a quem não emitir
seu voto, sem justificativa, será aplicada uma sanção. Como a liberdade é um
dos pressupostos da democracia e, consequentemente, um dos princípios que
norteiam o Estado Democrático de Direito. O voto sendo obrigatório, torna-se uma
manifestação forçada, sendo contra a liberdade. O voto dado espontaneamente é
mais vantajoso para a definição da verdade eleitoral. Há os que julgam que a
sociedade brasileira não está pronta para o voto facultativo, porém esse é um
argumento questionável, com o fim do voto obrigatório, tem-se que adotar
medidas para educar politicamente a população, esclarecendo a importância do
voto e assim estimular o exercício desse direito. Os argumentos que determinam
a obrigatoriedade do voto no Brasil merecem uma reavaliação, pois essa
exigência já existia no Código Eleitoral de 1932, portanto, há mais de setenta
anos, quando as condições econômicas e políticas do País eram bastante
diferentes. Se a consciência política de um povo ainda não está evoluída
suficientemente em razão do subdesenvolvimento econômico e de seus mútuos
reflexos nos níveis educacionais, não é tornando o voto obrigatório que se
obterá a transformação da sociedade. Se fosse, o Brasil e a maioria dos países
da América Latina que adotam a compulsoriedade do voto há muitas décadas
estariam com seus problemas sociais resolvidos. De um modo geral, pode-se
afirmar que os regimes autoritários têm preferência pelo voto obrigatório
porque assim o controle do Estado sobre a sociedade é mais forte. O mundo também
mudou. Não há, hoje, nenhuma democracia representativa relevante que adote o
recurso do voto obrigatório. A mais importante delas, a dos Estados Unidos da
América, que mal consegue levar às urnas a metade do eleitorado, mesmo nas
campanhas presidenciais mais disputadas. Tal fato não leva à dedução de que
falta participação popular àquele consolidado sistema político-eleitoral.
2. INTRODUÇÃO
O esforço da reconstrução da
democracia no Brasil ganhou ímpeto após o fim da ditadura militar; uma das
marcas desse esforço é a ação que assumiu a palavra "cidadania". A
cidadania caiu na boca do povo, ela substitui o próprio povo na retórica
política. Havia ingenuidade no entusiasmo, na crença de que a democratização
traria a felicidade nacional. O direito do voto nunca foi tão difundido.
Passado o fim da ditadura,
problemas de nossa sociedade vêm desgastando e perdendo a confiança dos
cidadãos nos mecanismos e agentes do sistema democrático, como as eleições, os
partidos, o Congresso e os políticos, onde as manobras políticas e a falta de
interesse da população fizeram com que o voto se tornasse obrigatório. E, o
voto que, além de prisioneiro da obrigatoriedade que transforma direitos em
dever, vem sendo deformado por interferências externas. Já na origem do processo
eleitoral, a atuação criminosa, hoje os marqueteiros prolongam um processo que
transitou do ilegal sem perder a essência do objetivo: a falsificação das
vontades.
2.
DESENVOLVIMENTO
É importante refletir sobre os
problemas da cidadania, sobre seu significado, sua evolução histórica e suas
perspectivas; o fenômeno da cidadania é complexo e historicamente definido; o
exercício de certos direitos, como a liberdade de pensamento e o voto, não
geram automaticamente o gozo de outros, como a segurança e o emprego. O
exercício do voto não garante a existência de governos atentos aos problemas
básicos da população, a liberdade e a participação não levam rapidamente, ou
automaticamente a resolução de problemas sociais; a cidadania inclui várias
dimensões. A ausência de uma população educada tem sido sempre um dos
principais obstáculos à construção da cidadania civil e política.
É costume desdobrar a cidadania
em direitos civis, políticos e sociais. É possível haver direitos civis sem
direitos políticos, se referem à participação do cidadão no governo da
sociedade, seu exercício consiste na capacidade de fazer demonstrações
políticas, de organizar partidos, de votar e ser votado. Quando se fala em
direitos políticos é do direito do voto que se está falando, mas o ser humano,
cidadão, possui outros direitos, tais como à vida, à igualdade e à liberdade.
Seria interessante comentar sobre o direito de liberdade. "Liberdade é a faculdade de cada um se
decidir ou agir segundo a própria determinação." (FERREIRA, Aurélio
Buarque de Holanda, 1985).
E é esta determinação que se
caracteriza como vontade que vai proporcionar o ser humano a decidir o que é
bom para ele e quem vai ser o seu representante no Congresso ou simplesmente se
quer votar neles.
O voto sendo facultativo
favorecia a sua troca por pequenos favores, com sua origem em meados de 1930, o
voto obrigatório milita em favor da qualidade da representação popular; onde a
obrigatoriedade, foi uma tentativa de aproximar o povo das urnas. Atualmente o
voto é obrigatório e isso não quer dizer que deixe de ser democrático, o povo
se vê na obrigação de comparecer às urnas para votar, mas exercendo seu direito
de escolha.
Seria imaturo tratar a questão da
obrigatoriedade do voto somente sob ponto de vista do eleitor. As pessoas não
gostam de se sentirem obrigadas a cumprir regras, estão cansadas de ouvirem
sobre corrupção no meio político, estão descontentes com o governo, vários
motivos poderiam ser citados para justificar o desinteresse pelo exercício do
voto. Porém, o voto nada mais é do que o instrumento de participação dos
cidadãos na conformação do poder político, e o que falta aos eleitores é esta
conscientização. O voto não é somente um dever, mas um direito. Renunciar a
ele, anulá-lo ou até mesmo deixá-lo em branco é demitir-se da cidadania, é
fugir de uma responsabilidade.
Pode-se pensar em voto
facultativo, mas em outra circunstância histórica; quando alcançarmos a
felicidade de fazer parte de uma sociedade sabedora de que a política decide
desde o preço e q qualidade da comida até a realização de nossos sonhos de
consumo, quando o apelo de consciência que faz a democracia for atendido.
Enquanto houver indiferença, desinteresse e essa apatia coletiva que toma conta
do eleitorado brasileiro, o voto tem que permanecer obrigatório. Sem a
participação de todos não haverá avanço para a conquista plena da cidadania.
Hoje o voto além de ser
obrigatório é eletrônico, efetuado através das urnas eletrônicas; a lisura
segurança ao voto eletrônico é freqüentemente questionada, embora o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) garanta que urnas eletrônicas são 100% seguras, elas
não permitem a recontagem de votos ou qualquer fiscalização, além de seus
programas – em parte preparados pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)
– serem fechados.
Com o fim das cédulas de papel, o
voto tornou-se um registro na memória RAM das urnas eletrônicas, que se apaga
quando a máquina totaliza resultados no Boletim de Urna no final da votação.
Até agora a urna eletrônica não
permiti qualquer tipo de auditoria: há absoluta falta de comprovante e só resta
a palavra do TSE de que o equipamento "é 100% seguro". Já o voto
impresso garantirá que nenhum software desvie sufrágios de um candidato para
outro na RAM da máquina, se auto-apagando sem deixar vestígios. Por que
existirá o perigo, para o fraudador, de ser pego na recontagem.
Acredita-se que a urna eletrônica
sem a possibilidade da recontagem do voto "fere o direito da
cidadania", pois com um programa bem simples é possível quebrar o sigilo
do voto pelo número do eleitor que é digitado na hora de disponibilizá-la para
a votação.
2.1 É o
Voto do Cabresto um problema antigo, ou perdura até nossos dias?
A cada ano de eleição exerceremos
o direito de cidadania através do voto.
Poder votar em quem, a principio
tem-se confiança, é apostar no político que tem menos chance de nos desapontar.
No político que, a principio, irá melhorar as condições sociais, políticas e
morais do cidadão brasileiro.
É de relevante importância que se
discuta este assunto, em vista de que, elegeremos políticos que, ocupando
diversos cargos, terão em suas mãos o destino do nosso país.
Desde o inicio, quando o cidadão
começou a exercer o "direito", ou "obrigação" de votar, se
constata a presença do "coronelismo, da política de favores e
principalmente do voto de cabresto", de forma sutil, mas com raízes
profundas, difíceis de serem cortadas.
O cidadão precisa
conscientizar-se do voto, não se deixar seduzir por promessas ou por soluções
imediatas, mas não permanentes como as que se consegue na troca de favores.
Em virtude do coronelismo
moderno, da troca de favores e do ainda existente voto de cabresto, pode-se
chamar o comparecimento do cidadão às urnas, de exercício da cidadania, do
"direito" de escolha? Ou trata-se apenas do cumprimento de uma
formalidade, obrigação sob risco de penalidade financeira ou moral, onde as
"cartas" já estão marcadas?
Definido como um compromisso, uma
troca de proveitos entre o Poder Publico, progressivamente fortalecido, e a
decadente influencia social dos chefes locais, notadamente dos senhores de
terras. A força dos coronéis provinha dos serviços que prestavam ao chefe do
Executivo, para preparar seu sucessor nas eleições, e aos membros do
Legislativo, fornecendo-lhes votos e assim ensejando sua permanecia em novos
pleitos, o que tornava fictícia a representação popular, em virtude do voto
"manipulado".
Certas atribuições, tais como
eleger o governador e o prefeito, criar certos impostos, foram retiradas do
poder central e transferidas para os estados e municípios. Essa
descentralização, introduzida pela República, fortaleceu o poder local e os
coronéis acabaram assumindo um grande poder. O coronel era, sobretudo, uma
figura local, exercendo influencia nas cidades menores, mais afastadas e sua imediações.
Nessas localidades, aonde não
chegava a influencia do Estado, certas funções publicas, tais como policia,
justiça e outras passaram a ser exercida de forma privada, pelos coronéis.
Mesmo que no município existissem os delegados, o juiz, prefeito, essas
autoridades, encontravam-se submetidas ao seu poder.
Esse poder decorria de sua
condição de grande proprietário, e era proporcional à quantidade de terras que
possuía. Quanto mais terra, maior era o numero de pessoas que dependia do
coronel.
Na disputa pelo poder era comum
explodir lutas sangrentas entre bandos de jagunços de coronéis adversários. Ao
final, o coronel mais poderoso e violento acabava por se impor na região em
disputa.
A força do coronelismo era maior
nas regiões mais atrasadas, porque nesses lugares a população não encontrava ou
encontrava poucas possibilidades de viver fora da agricultura. Nas regiões mais
urbanizadas a população ganhava mais independência política que podia encontrar
empregos no comercio e na indústria.
São resultantes desse compromisso
algumas características do sistema Coronelista que ainda perduram em nosso
país: o mandonismo, o filhotismo, o nepotismo, o falseamento do voto e a
desorganização dos serviços locais.
Nas ultimas décadas do século, a
população rural correu para as cidades, atraída inicialmente pelo processo de
industrialização e deixou de usar a enxada como instrumento de trabalho, a
relação entre o coronel e o voto de cabresto parece sobreviver sob novas formas
diversificadas de "coronelismo" no Brasil urbano.
A relação de reciprocidade ganha
novos contornos e amplia a sua esfera para outras arenas: a vaga na escola só é
concedida pelo vereador – a rede de água e esgoto ou a instalação elétrica
compete ao deputado estadual; e os investimentos em transporte ou pólos de
desenvolvimento ficam com os deputados federais e os senadores.
As políticas públicas acabam
sempre privatizadas pelas verbas distribuídas diretamente aos parlamentares,
pela contratação de cabos eleitorais para assumir funções nobres em órgãos
públicos ou pelos "currais comunitários" desenvolvidos pelos
"coronéis modernos".
Este procedimento de utilização
direta ou indireta dos recursos públicos mantém, alimenta e conserva a
"relação de reciprocidade" e acaba por atender mais a sustentação das
lideranças dos coronéis modernos em detrimento da implantação, organização e
democratização de políticas públicas voltadas para o cidadão e para a
sociedade.
A atualidade do coronelismo,
tratando, por exemplo, do Ceará, é a seguinte: Voto de curral, principalmente
no interior, política de aliados pela troca de favores e distribuição de cargos
federais, estaduais e municipais para apadrinhados dos poderosos ainda
encontram eco na cultura local. Hoje a precária estrutura partidária do interior
continua ao sucumbir diante de pressões. Votos são trocados por cestas, tijolos
e até dentaduras.
E o que dizer do coronelismo
eletrônico? O advento das mídias eletrônicas de massa e sua universalização,
num país onde os baixíssimos níveis de educação da população as transformam num
meio hegemônico de informação e, mais grave que isso, num meio hegemônico de
formação e de indução de modas e costumes, ensejam o surgimento de uma versão
eletrônica do fenômeno do coronelismo, infinitamente mais abrangente e perigoso
que a versão anterior.
Quem, não por acaso, deu o
impulso definitivo a esse surgimento foi um dos mais legítimos representantes
dessa versão brasileira do caudilhismo, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães
que, quando ministro das Comunicações do governo José Sarney, distribuiu canais
de radio e televisão a todos os grupos políticos regionais dominantes,
especialmente no Norte e Nordeste do País, e articulou a filiação de muitos
desses canais à mais poderosa das redes privadas de televisão, à qual ele
estava, na época, umbilicalmente ligado. Assim nasceu a relação de crescente
promiscuidade entre o poder político e o poder da mídia que desvirtua a
democracia brasileira.
2.2 Política
de Favores
Durante a Republica Velha o
Brasil tinha uma economia essencial agrícola. 75% da população brasileira
viviam na área rural. Nessa sociedade, os coronéis eram os donos do poder,
tinham em suas fazendas grande número de empregados que recebiam salários
miseráveis.
Desamparados pela lei, para
sobreviver, esses trabalhadores precisavam da ajuda do coronel para quase tudo.
Dependiam do "favor" do coronel. Em troca do favor, o
"coronel" esperava ser atendido quando precisasse. Quando precisava
decidir disputas políticas ou de terras, era na sua clientela que o coronel
recrutava os jagunços.
Os coronéis pagavam tudo ao povo
em troca do voto: documentos, transportes, alojamento, refeições, dias de
trabalho perdidos, roupa em até chapéu. O poder do coronel ia além do limite da
fazenda, se espalhava pela pequena cidade. Os principais cargos e empregos
estavam sujeitos à sua influencia pessoa.
Todas as pessoas importantes da
cidade procuravam alguma ligação com o poderoso fazendeiro. O sonho de muita
gente era tornar-se compadre do coronel, conseguindo que ele fosse padrinho de
batizado do filho. Os coronéis estabeleciam alianças para eleger o governador
do estado. O coronel negociava seu apoio político com os candidatos e contava
com os votos de sua clientela. Podendo dispor dos votos de sua clientela, o
coronel negociava seu apoio com os chefes políticos da sua região ou do seu
estado e, esperava ser atendido por eles quando pedia um beneficio para si,
para um cliente ou para sua região. Depois de eleito, o governador retribuía o
apoio recebido, destinando verbas aos municípios amigos para a construção de
obras como praças, estradas, escola, era uma troca de favores. Os coronéis
apoiavam o governador e, em troca, recebiam a ajuda financeira estadual.
O resultado desta troca de
favores foi que o poder político de cada estado ficava sempre em mãos o mesmo
grupo. Cada governador passava o poder para um parente ou amigo do mesmo bando
político. As oligarquias agrárias montavam uma complicada rede de transmissão
de poder, que ia desde os municípios até a esfera federal. O coronelismo
costurava o fio das alianças na base de troca de favores, do clientelismo e de
muitas corrupções.
Duas coisas andavam juntas: o
coronelismo que, recordando, é o exercício do poder pelos coronéis, e o
clientelismo, que é o costume de conseguir favores para os protegidos, à custa
dos cofres públicos.
Citando, atualmente, o Nordeste
brasileiro, a "política da dádiva", que serve para favorecer o homem,
na verdade lhe tira tudo pouco a pouco. Esta política está situada entre dois
pólos: nado e subserviência, cujas raízes se alastram pela cultura política.
Uma das conseqüências da
"política da dádiva" é o entendimento da exploração entre pessoas
como natural, e por doação, não por direito, pois não exercitam a cidadania.
2.3 O
voto de Cabresto
Em troca de "favores",
o coronel exigia que as pessoas votassem nos candidatos políticos que ele
indicava para os cargos públicos (prefeito, governador e presidente da
republica; vereador, deputado e senador). Quem se negasse a votar no candidato
do coronel perdia completamente seus "favores" e ficava sujeito à
violência dos jagunços ou capangas que trabalhavam na grande fazenda, estes
perseguiam, espancavam e matavam os inimigos do coronel.
Na época o voto era aberto não
secreto, isto é, na hora da votação o leitor tinha de declarar publicamente o
candidato de sua preferência. Esse voto aberto era dado sob pressão, controlado
pelos jagunços do coronel. Esse tipo de voto ficou conhecido como "voto do
cabresto", expressão popular que significava votos obrigatórios, impostos
pelos coronéis contra a vontade intima do eleitor. Era o voto manipulado,
controlado. O conjunto dos votos de cabresto formava o curral eleitoral do
coronel.
A recente medida que permite a
impressão do voto, para que o eleitor se certifique de que escolheu quem
realmente queria, tem tudo para ressuscitar o famigerado voto do cabresto, que
parecia banido pelo sistema eletrônico. Políticos inescrupulosos não poderiam
esperar melhor recibo. E quem costuma vender seu voto não precisa de melhor comprovante
de que cumpriu o condenável trato.
Com a instituição do voto
secreto, o voto de cabresto, como era praticado até 1930, se tornou impossível,
mas os vícios permanecem, têm suas raízes profundas.
O estilo tradicional do político
nordestino (e brasileiro) é o da política de mão dupla, "viés muito forte
no Brasil".
A urna eletrônica foi projetada
para defender o eleitor contra, entre outros, as varias forma de voto de
cabresto e a adulteração dos votos pelos escrutinadores.
Gilberto Freyre, ex-deputado
federal de Pernambuco, conta que foi engabelado, em 1951, pelos políticos que,
instaram com ele, pessoalmente e por telefone, que se apresentasse candidato à
reeleição, garantindo-lhe "votos de cabresto" no interior, de que
eram realmente donos ou proprietários, pois lhes era ponto de honra essa
reeleição. Gilberto Freyre afirma que estas "manobras" se passam
também, de modo um tanto velado, em meios religiosos, academias, santas casas e
até mesmo para academias, como a de Belas Letras e de Belas Artes. O fracasso
eleitoral, para Gilberto Freyre, foi um consolo, pois sabia que ninguém em
Pernambuco foi tão votado pelo eleitor espontâneo e independente, pelo eleitor
incapaz de vender votos, pela mocidade pernambucana, pela cidade livre que é o
Recife culto, foi o único candidato que teve a seu favor aquele voto espontâneo
e puro de gente livre. Não teve o chamado voto de cabresto, prometido por
políticos de carreiras, pois julgaram dá-lo a outros mais "úteis" a
seus interesses. Não faltou em Pernambuco, como noutras partes do Brasil, quem
aparecesse de carteira gorda para realizar essas compras de eleitores nem
sempre magros de fome, às vezes magros de cupidez.
E o voto do analfabeto, não seria
uma forma de voto de cabresto, voto manipulado? Parlamentares que respondem
pelas comissões de Educação na Assembléia Legislativa e Câmara Municipal de
Fortaleza divergem quanto à participação de analfabetos no processo eleitoral.
Analfabetos e pessoas que sabem
apenas ler e escrever totalizam mais de 50% do eleitorado cearense. Políticos
de todos os partidos se beneficiam com o eleitorado pouco qualificado, vão
buscar votos na periferia e no interior. A manipulação eleitoral de analfabetos
é uma reprodução do "voto de cabresto". Há um coronelismo eletrônico,
pois quem controla os meios de comunicação tem o poder de persuadir a opinião
publica.
É possível discriminar ou ofender
os direitos humanos de um ou de poucos, mas é impossível dominar e discriminar
todo um povo. Aqueles que forem eleitos com o voto do povo, não podem, por
meios ilegítimos em democracia, manipular consciências visando a manutenção e a
ampliação do poder.
4.
CONCLUSÃO
Deve o voto ser obrigatório?
A instituição do voto facultativo
pode fazer renascer no Brasil a pratica do velho voto de cabresto. Os
candidatos endinheirados vão procurar assegurar o comparecimento do eleitor as
urnas mediante compra de votos. Ou seja, vamos retroceder a 1930.
O voto facultativo pode
representar um estimulo para que o eleitor deixe de comparecer a urna. Outro
ponto contra a instituição do voto facultativo, segundo muitos, é que qualquer pessoa
vai se achar no direito de discutir a própria legalidade das eleições. Na
medida em que o cidadão é liberado da obrigatoriedade do voto, isso contribui
para a elitização do processo político. Quando o cidadão é obrigado a votar,
ele é estimulado a participar da discussão das propostas que estão sendo
debatidas nas campanhas eleitorais e também a conhecer os candidatos que estão
disputando o seu voto.
Pra muitos políticos brasileiros a
instituição do voto facultativo pode representar um aperfeiçoamento do sistema
democrático no País, um instrumento para aprofundar a democratização das nossas
instituições políticas. Salientam ainda que o voto não deveria ser um
constrangimento legal que se impõe às pessoas. Se o voto for por vontade
própria à conscientização política será reforçada, segundo a senadora.
Hoje, o sistema de aliciamento
mudou um pouco, é mais sutil, porém não menos imoral. Durante a seca,
organizam-se "frentes de trabalho", escolhem-se pessoas que se
enquadram no perfil de cabresto.
Em muitas localidades, até hoje,
alguns políticos distribuem cestas básicas, tijolos, dentaduras, cimento,
dinheiro em troca de votos. Há pessoas que defendem fortemente que as
"bolsas", bolsa-escola, bolsa-alimentação, bolsa para qualquer coisa,
fazendo do país um grande país marsupial, dizendo ser uma forma moderna de
"cabresto", mas se encararmos as bolsas como forma de cabresto, como
encararemos as ações sociais? É um ponto importantíssimo que devemos analisar,
levar em extrema consideração. Precisamos rever nossos conceitos, nossos
valores.
REFERÊNCIAS
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Retórica: Para uma teoria da dogmática jurídica, Saraiva, 3ª Edição, 2007.
CAMPOS, Raymundo Campos. História
do Brasil, São Paulo, Editora Atual, 1983.
De
Plácido e Silva.
Vocabulário Jurídico, Editora Forense, 1989.
FERREIRA, Aurélio Buarque de
Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. Nova Fronteira. Rio de Janeiro: 1985.
Feyre, Giberto. Interpretação do Brasil: aspectos da formação social
brasileira como processo de amalgamento de raças e culturas. Traduzido por
Olívio Montenegro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.
NIESS; Pedro Henrique Távora.
Direitos Políticos – Condições de Elegibilidade e Inelegibilidades, Editora
Saraiva, 2006.
SILVA; José Afonso da. Curso de
Direito Constitucional Positivo, Editora Malheiros, 2004.
SOIBELMAN; Leib. Enciclopédia
Jurídica, Versão 2.0, 2002.
VILLOSO, João Paulo dos Reis, O
Brasil e as Reformas Políticas, Rio de Janeiro, José Olympio, 1992
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