Teoria
de letramento
A
qualidade na alfabetização e no letramento
De acordo com Magda Becker Soares, letramento é a
tradução da palavra inglesa literacy[1],
que se originou da palavra do latim littera,
que significa "letra". À palavra latina littera foi acrescentado o sufixo -cy, que denota situação ou qualidade
e formou a expressão inglesa literacy.
Semelhante fenômeno ocorreu na língua portuguesa, ou seja, ao radical letra-
foi adicionado o sufixo -mento, compondo, deste modo, uma nova palavra:
letramento. A autora
prossegue dizendo que o vocábulo letramento ainda não consta dos dicionários,
por ter sido recentemente introduzida na língua portuguesa, tendo sido usada
inicialmente no livro “No mundo da escrita uma perspectiva psicolinguística”, de
Mary Kato no ano de 1986 (apud SOARES,
1998).
A mesma
autora referenciada acima, em sua obra “Letramento, um tema em três gêneros, de
1998, dá o conceito de letramento: “... letramento é o resultado da ação de
"letrar-se", se dermos ao verbo "letrar-se" o sentido de
"tornar-se letrado"... Decorrência da ação de ensinar e aprender as
práticas sociais de leitura e escrita” (SOARES, 1998). Continua dizendo ainda
que:
Observação importante: ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido
a ler e a escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma
tecnologia, a de codificar em língua escrita e de decodificar a língua escrita;
apropriar-se da escrita é tornar a escrita "própria", ou seja, é assumi-la
como sua "propriedade” (SOARES, 1998).
Ou seja, existe uma diferença considerável entre
letramento e alfabetização e, por conseguinte, entre letrado e alfabetizado.
Pois alfabetizar é o aprendizado puro e simples da leitura e da escrita,
enquanto que “letrar” é conseguir com que o indivíduo se utiliza socialmente da
escrita e da leitura, respondendo de modo adequado às demandas da sociedade em
relação a escrever e ler.
A percepção da alfabetização vem se transformando baseada
em reflexões sobre seu conceito, a sua natureza e o seu grau de complexidade,
em virtude de sua multidisciplinaridade, enfatizando os aspectos positivos de
aprendizagem ao aluno, que ao se apropriar do sistema alfabético se beneficia das
múltiplas situações que o levam a interagir, suportado nos variados estilos de
leitura e de escrita, que são decorrentes das técnicas de letramento
desdobradas dentro da sala de aula.
Como consequência do aparecimento do termo letramento,
novas hipóteses vão sendo abalizadas sobre a alfabetização, considerando as
possibilidades de se alfabetizar letrando, correspondendo às reivindicações da
sociedade sobre o correto uso da leitura e da escrita, para uma formação
cultural letrada. Deste modo, compreende-se a escrita e a leitura como produtos
da cultura com função social, necessárias ao desenvolvimento do indivíduo que
se utiliza de diversos recursos visando a sua comunicação no cotidiano.
Ainda de acordo com Soares (2003), a produção acadêmica no
Brasil mostra a ligação entre alfabetização e letramento, demonstradas nos estudos
de Kleiman (1995) e Tfouni (2005), sendo que o primeiro autor trata sobre o
conceito de alfabetização opondo-se ao conceito de letramento, pois para esta
autora o termo letramento foi uma tentativa de dividir os estudos sobre o “choque
social da escrita” nos estudos sobre a alfabetização, como resultado da concepção
dos usos e fins que a escrita desempenha nas sociedades centradas na escrita,
como as ocidentais, sem que basicamente o indivíduo tenha contraído a instrução
alfabética.
Então, a boa qualidade do letramento provoca a assimilação da escrita e seu nas diferentes práticas, suplantando o procedimento primeiro de obtenção do código alfabético, que compõe uma especificação da alfabetização, assim como avaliando as práticas cotidianas dos contextos culturais.
Então, a boa qualidade do letramento provoca a assimilação da escrita e seu nas diferentes práticas, suplantando o procedimento primeiro de obtenção do código alfabético, que compõe uma especificação da alfabetização, assim como avaliando as práticas cotidianas dos contextos culturais.
O letramento com qualidade percebível é um elemento
plural, com diversas faces, cuja abrangência sugere os estilos e colocações das
demandas de leitura e escrita impostas pela sociedade letrada, não somente para
o indivíduo que consegue ler e escrever, como também, para quem se utiliza o código como mediação, algo assim
como se diferenciar produtos pela marca, conhecer o valor do dinheiro, ouvir
uma notícia no rádio, entre diversas circunstâncias advindas do uso da escrita que
estão presentes na conjuntura de uma sociedade centrada na escrita. Derivam
desta probabilidade, conjuntos distintos da acepção de letramento, tal como a
dimensão pessoal e a dimensão social para a apreensão da expressão como um acontecimento
não singular, socialmente edificado, cujo significação é especificada partindo-se
do contexto cultural e histórico dos mais diversos grupos culturais.
Soares (2004) reflete ainda a respeito da liberalidade
progressista entre a sociedade e o letramento, pois neste contexto o letramento
se define como as capacidades necessárias para que o sujeito opere de modo
adequado nos contextos sociais. Este conceito se encaixa como a expressão
“alfabetização funcional”, suscitando então a definição conceitual de
letramento funcional, enfatizando os predicados pessoais indispensáveis ao que
a sociedade exige, especialmente na aplicação efetiva dos conhecimentos da
escrita e da leitura para que a sociedade funcione corretamente, visando o
progresso e o exercício pleno da cidadania.
Neste aspecto, a dimensão social do letramento enfatiza
os princípios de uma alfabetização analítica e crítica, além de transformadora,
que entendo o indivíduo como alguém que faz parte do seu contexto histórico, estabelecido
nas distintas situações sociais e, por conseguinte, capacitado a usar a escrita
como instrumento para o incremento de suas capacidades, com uma atuação melhor na
contemporânea sociedade tecnológica.
O conceito de uma alfabetização transformadora se encaixa
com uma educação empenhada com a liberação e o domínio da palavra de uma
minoria elitizada detentora do poder da escrita, autenticando as relações de
predomínio entre os que se apoderam da escrita e entre os que não a têm,
constituindo uma casta de marginalizados (FREIRE, 1987).
Esta conjectura atribui a contorno de jurisdições entre
letrados e iletrados, constituindo poder e superioridade a quem domina a
escrita, sendo acatados como competentes ao pleno exercício da atividade intelectiva
especialmente praticada pela habilidade de expressão que lhe adéqua o melhor desenvolvimento
na sociedade e, por isso, a disposição de prosperar, em virtude da escrita
estar conectada ao progresso social e tecnológico.
O desafio
de alfabetizar letrando com qualidade, transcorre, fundamentalmente, pelo
entendimento da proposta de alfabetização e de letramento, avaliando a grandeza
social desses termos, como intuito de que o docente seja redefinido mediante o incremento
de atuações que autorizem a obtenção e o desenvolvimento da leitura e da
escrita como exercícios sociais.
REFERÊNCIAS:
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
KLEIMAN, A. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola.
Campinas: Mercado de Letras, 1995.
SERPA. O. Dicionário Escolar. Inglês/Português. Português/Inglês. Rio de
Janeiro: MEC/FAE/RJ, 1993.
______. SOARES, M. Um tema em três
gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
TFOUNI, L. Letramento e Alfabetização.
São Paulo, Cortez: 2005
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