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sexta-feira, 3 de julho de 2015

TEORIA DE LETRAMENTO - A QUALIDADE NA ALFABETIZAÇÃO E NO LETRAMENTO

Teoria de letramento
A qualidade na alfabetização e no letramento

            De acordo com Magda Becker Soares, letramento é a tradução da palavra inglesa literacy[1], que se originou da palavra do latim littera, que significa "letra". À palavra latina littera foi acrescentado o sufixo -cy, que denota situação ou qualidade e formou a expressão inglesa literacy. Semelhante fenômeno ocorreu na língua portuguesa, ou seja, ao radical letra- foi adicionado o sufixo -mento, compondo, deste modo, uma nova palavra: letramento. A autora prossegue dizendo que o vocábulo letramento ainda não consta dos dicionários, por ter sido recentemente introduzida na língua portuguesa, tendo sido usada inicialmente no livro “No mundo da escrita uma perspectiva psicolinguística”, de Mary Kato no ano de 1986 (apud SOARES, 1998).
            A mesma autora referenciada acima, em sua obra “Letramento, um tema em três gêneros, de 1998, dá o conceito de letramento: “... letramento é o resultado da ação de "letrar-se", se dermos ao verbo "letrar-se" o sentido de "tornar-se letrado"... Decorrência da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita” (SOARES, 1998). Continua dizendo ainda que:

Observação importante: ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar a escrita "própria", ou seja, é assumi-la como sua "propriedade” (SOARES, 1998).

            Ou seja, existe uma diferença considerável entre letramento e alfabetização e, por conseguinte, entre letrado e alfabetizado. Pois alfabetizar é o aprendizado puro e simples da leitura e da escrita, enquanto que “letrar” é conseguir com que o indivíduo se utiliza socialmente da escrita e da leitura, respondendo de modo adequado às demandas da sociedade em relação a escrever e ler.
            A percepção da alfabetização vem se transformando baseada em reflexões sobre seu conceito, a sua natureza e o seu grau de complexidade, em virtude de sua multidisciplinaridade, enfatizando os aspectos positivos de aprendizagem ao aluno, que ao se apropriar do sistema alfabético se beneficia das múltiplas situações que o levam a interagir, suportado nos variados estilos de leitura e de escrita, que são decorrentes das técnicas de letramento desdobradas dentro da sala de aula.
            Como consequência do aparecimento do termo letramento, novas hipóteses vão sendo abalizadas sobre a alfabetização, considerando as possibilidades de se alfabetizar letrando, correspondendo às reivindicações da sociedade sobre o correto uso da leitura e da escrita, para uma formação cultural letrada. Deste modo, compreende-se a escrita e a leitura como produtos da cultura com função social, necessárias ao desenvolvimento do indivíduo que se utiliza de diversos recursos visando a sua comunicação no cotidiano.
            Ainda de acordo com Soares (2003), a produção acadêmica no Brasil mostra a ligação entre alfabetização e letramento, demonstradas nos estudos de Kleiman (1995) e Tfouni (2005), sendo que o primeiro autor trata sobre o conceito de alfabetização opondo-se ao conceito de letramento, pois para esta autora o termo letramento foi uma tentativa de dividir os estudos sobre o “choque social da escrita” nos estudos sobre a alfabetização, como resultado da concepção dos usos e fins que a escrita desempenha nas sociedades centradas na escrita, como as ocidentais, sem que basicamente o indivíduo tenha contraído a instrução alfabética.
            Então, a boa qualidade do letramento provoca a assimilação da escrita e seu nas diferentes práticas, suplantando o procedimento primeiro de obtenção do código alfabético, que compõe uma especificação da alfabetização, assim como avaliando as práticas cotidianas dos contextos culturais.
            O letramento com qualidade percebível é um elemento plural, com diversas faces, cuja abrangência sugere os estilos e colocações das demandas de leitura e escrita impostas pela sociedade letrada, não somente para o indivíduo que consegue ler e escrever, como também, para quem  se utiliza o código como mediação, algo assim como se diferenciar produtos pela marca, conhecer o valor do dinheiro, ouvir uma notícia no rádio, entre diversas circunstâncias advindas do uso da escrita que estão presentes na conjuntura de uma sociedade centrada na escrita. Derivam desta probabilidade, conjuntos distintos da acepção de letramento, tal como a dimensão pessoal e a dimensão social para a apreensão da expressão como um acontecimento não singular, socialmente edificado, cujo significação é especificada partindo-se do contexto cultural e histórico dos mais diversos grupos culturais.
            Soares (2004) reflete ainda a respeito da liberalidade progressista entre a sociedade e o letramento, pois neste contexto o letramento se define como as capacidades necessárias para que o sujeito opere de modo adequado nos contextos sociais. Este conceito se encaixa como a expressão “alfabetização funcional”, suscitando então a definição conceitual de letramento funcional, enfatizando os predicados pessoais indispensáveis ao que a sociedade exige, especialmente na aplicação efetiva dos conhecimentos da escrita e da leitura para que a sociedade funcione corretamente, visando o progresso e o exercício pleno da cidadania.
            Neste aspecto, a dimensão social do letramento enfatiza os princípios de uma alfabetização analítica e crítica, além de transformadora, que entendo o indivíduo como alguém que faz parte do seu contexto histórico, estabelecido nas distintas situações sociais e, por conseguinte, capacitado a usar a escrita como instrumento para o incremento de suas capacidades, com uma atuação melhor na contemporânea sociedade tecnológica.
            O conceito de uma alfabetização transformadora se encaixa com uma educação empenhada com a liberação e o domínio da palavra de uma minoria elitizada detentora do poder da escrita, autenticando as relações de predomínio entre os que se apoderam da escrita e entre os que não a têm, constituindo uma casta de marginalizados (FREIRE, 1987).
            Esta conjectura atribui a contorno de jurisdições entre letrados e iletrados, constituindo poder e superioridade a quem domina a escrita, sendo acatados como competentes ao pleno exercício da atividade intelectiva especialmente praticada pela habilidade de expressão que lhe adéqua o melhor desenvolvimento na sociedade e, por isso, a disposição de prosperar, em virtude da escrita estar conectada ao progresso social e tecnológico.
            O desafio de alfabetizar letrando com qualidade, transcorre, fundamentalmente, pelo entendimento da proposta de alfabetização e de letramento, avaliando a grandeza social desses termos, como intuito de que o docente seja redefinido mediante o incremento de atuações que autorizem a obtenção e o desenvolvimento da leitura e da escrita como exercícios sociais.
REFERÊNCIAS:

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

KLEIMAN, A. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1995.

SERPA. O. Dicionário Escolar. Inglês/Português. Português/Inglês. Rio de Janeiro: MEC/FAE/RJ, 1993.

SOARES. M. B. Letramento, um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 1998.

______. SOARES, M. Um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

TFOUNI, L. Letramento e Alfabetização. São Paulo, Cortez: 2005





[1] Literacy – capacidade de ler e escrever. (SERPA,1993)

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