PRÉ-VESTIBULAR
POPULAR SEU PAPEL SOCIAL E EDUCAÇÃO SUPERIOR PARA TODOS
SIGLAS:
CIAC – CENTRO INTEGRADO DE APOIO À CRIANÇA
INEP – INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAL
PNAC – PROGRAMA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO E
CIDADANIA
PVNC – PRÉ VESTIBULAR PARA NEGROS CARENTES
PVP – PRÉ VESTIBULAR POPULAR
PUOS – PRÉ UNIVERSITÁRIO OFICINA DO SABER
SAED – SISTEMA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO BÁSICA
O presente estudo busca enfocar a trajetória escolar dos alunos
das camadas populares, nos cursos de nível superior. Esta discussão remete as
dificuldades de acesso e permanência das camadas populares na universidade
pública. Se o primeiro problema já é por si só grave, o segundo é ainda maior.
O tema refere-se a minha trajetória de vida, mas também com uma
realidade que não é só minha, mas de muitos jovens que lutam para permanecer na
universidade, após terem conseguido o ingresso na mesma. Isto me impulsionou a
discutir a temática do Pré-Vestibular Popular Seu Papel Social Para Todos.
Por pertencer a uma família de classe baixa, cursei o ensino
básico e fundamental em escolas públicas estaduais, e o ensino médio em escola
particular com Bolsa de Estudo ofertada pela Prefeitura e que não podia perder
o ano nem ao menos ficar em recuperação, pois nesse caso, perderia a Bolsa. Na
época em que realizei meus estudos era necessário comprovar através de atestado
de pobreza que não se possuía condições financeiras para arcar com as despesas
escolares. Esta situação adequava-se ao contesto citado por Teixeira em 1985,
de “cidadania invertida”, pois sempre tinha que passar pelo constrangimento de
provar que era pobre para poder exercer meu direito de estudar. Ele explica que
“Esta condição política de cidadania investida, em que o indivíduo entra em
relação com o Estado no Momento em que se reconhece como um não cidadão tem
como atributos jurídicos e institucionais, respectivamente, a ausência de uma
relação formalizada de direito ao benefício, o que se reflete na instabilidade
das políticas assistenciais, além de uma base institucional que reproduz um
modelo de voluntariado das organizações de caridade, mesmo quando exercidas em
instituições estatais”.
Em 1970 fui aprovada no Vestibular unificado para o Curso de Letras
numa Faculdade particular. Nessa época, meu pai teve um problema cardíaco e
meus sonhos desabaram, fiz um novo vestibular para uma Faculdade particular,
pois não existia mais tempo para uma nova tentativa no Vestibular Unificado. Optei
pelo curso de Letras, daí iniciei com muito sacrifício, pois tinha que
trabalhar o dia inteiro e estudar à noite e ainda ajudar nas despesas de casa e
com remanejo de meu pai, pois perdeu quase todos os movimentos, mas mesmo
assim, fui a luta, encontrei muitas barreiras durante o curso que concluí.
Desta forma, o esforço de pesquisa realizado nesta dissertação
compreendeu o levantamento bibliográfico sobre a trajetória escolar e a
permanência dos alunos em todas as fases do ensino, tendo como ponto central, a
permanência no ensino superior.
A primeira estratégia pensada para esse trabalho foi de se
realizar uma pesquisa com jovens que frequentavam o curso de pré-vestibular popular
(PVP), aonde o índice de aprovação para as universidades públicas vem aumentando
muito. Para a seleção dos jovens que querem fazer um curso PVP, utiliza-se o
critério de questionário e pesquisa de rendas.
A produção das desigualdades sociais tem sido uma das marcas mais
permanentes do sistema educacional brasileiro. Desde os anos 30, quando de fato
inicia-se uma preocupação para a preparação de maiores contingentes para o
mercado de trabalho, houve uma ampliação significativa do sistema estatal de
educação sem, entretanto, uma universalização de sua qualidade e do ingresso de
todos os brasileiros e as brasileiras de modo democrático.
O caráter excludente do sistema educacional gerou uma estrutura
piramidal bem parecido com a pirâmide social do país. As classes sociais de
menor poder aquisitivo engrossam a base da pirâmide, compondo os planos mais
baixos de escolaridade, concentrando-se especialmente nos grandes bolsões de
pobreza do país e, por outro lado, no topo da pirâmide educacional encontram-se
aqueles de maiores níveis educacionais que remetem, também, as melhores condições
econômicas e sociais. Ao constatar a realidade acima descrita é preciso
ressaltar também, as constantes pressões sociais que buscam romper com o status
quo vigente. Nos últimos anos essas pressões ganharam um novo dinamismo,
principalmente, devido à importância da escolaridade diante das exigências da
reestruturação produtiva em curso.
O principal objetivo é de oferecer ao estudante de baixa renda
oportunidade de estudar adequadamente, com mais chances de ingressar no ensino
superior, foi criado o curso pré-vestibular popular gratuito, que prepara
alunos com foco nas provas das universidades federais e estaduais do Rio de
Janeiro, além de instituições credenciadas no Pro Uni e no ENEN.
O presente trabalho foi motivado pelo constante interesse que a
pesquisadora vem demonstrando acerca das questões relacionadas à extensão
universitária devido a sua atuação profissional na Pró-reitora de Extensão da
Universidade Federal Fluminense, desde os anos de 1999. Tal fato possibilitou a
adquirir larga experiência acadêmica e de gestão no campo da extensão, por ser
o Pré-vestibular projeto/programa de extensão.
Colaboraram, ainda, neste sentido as consultas realizadas, ao
banco de dados e aos documentos, que normatizaram as ações de extensão.
No contexto coube, ainda, investigar: os cursos pré-vestibulares
universitários como: Motivação, Popular práxis, Josué de Castro, Oficina do
Saber, etc..
É uma ação de uma Universidade junto à comunidade
disponibilizando ao público externo o conhecimento adquirido com o ensino e a
pesquisa desenvolvidos.
A extensão universitária é a possibilidade que o
estudante tem de colaborar com a nação, socializando o conhecimento,
estreitando as barreiras existentes entre a comunidade e a universidade.
Trata-se do relacionamento entre a teoria e a prática, ou seja, faz com que o
conhecimento ultrapasse as salas de aula, indo além, permitindo o aprendizado
também pela aplicação, fazendo e praticando (SILVA, 1996).
Segundo Silva (1996), a extenção univertária atua
na realidade como:
Uma forma de interação que deve existir entre a
universidade e a comunidade na qual está inserida.É uma espécie de ponte
permanente entre a universidade e os diversos setores da sociedade. Funciona
como uma via de duas mãos, em que a Universidade leva conhecimentos e/ou
assistência à comunidade, e recebe dela influxos positivos como
retroalimentação tais como suas reais necessidades, seus anseios, aspirações e
também aprendendo com o saber dessas comunidades. Ocorre, na realidade uma
troca de conhecimentos, em que a universidade também aprende com a própria
comunidade sobre os valores e a cultura dessa comunidade. Assim, a universidade
pode planejar e executar as atividades de extensão respeitando e não violando
esses valores e cultura. A universidade, através da Extensão, influencia e
também é influenciada pela comunidade, ou seja, possibilita uma troca de
valores entre a universidade e o meio.
A extensão universitária revela-se como uma
obrigatoriedade constitucional disposta no artigo 207, da Constituição
Brasileira. Declara que “as universidades gozam de autonomia
didático-científica, administrativa e da gestão financeira, pesquisa e
extensão”.
O conceito de Extensão definido pelo Fórum de
Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras de 2001
sobressai que:
A extensão universitária é o processo educativo
que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação
transformadora entre universidade e a sociedade. A extensão é uma via de mão
dupla com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que se encontrará na
sociedade a oportunidade da elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico.
No retorno à universidade docentes e discentes terão um aprendizado que
submetido à reflexão teórica, seria acrescido àquele conhecimento. Este fluxo,
que estabelece a troca de saberes sistematizados/acadêmico e a participação
efetiva da comunidade na atenção da universidade (FORUM, 2001).
Por meio da Extensão a universidade vai até a
comunidade, ou a recebe em seu “campus”, disseminando o conhecimento de que é
detentora. Verifica-se que “é uma forma de a universidade socializar e
democratizar o conhecimento, levando-o aos não universitários (SILVA, 1996)”.
Neste contexto, entende-se a indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão. Pela pesquisa, são produzidos novos
conhecimentos que vão ser passados em sala de aula através do ensino.
Paralelamente, a extensão divulga o conteúdo aprendido à comunidade,
prestando-lhe os serviços e a assistência e por fim, utiliza esse contato com a
sociedade para coletar dados e informações para, assim, realizar estudos e
pesquisas. Assim, a universidade ao comunicar-se com a realidade local,
regional ou nacional tem a possibilidade de renovar constantemente a sua
própria estrutura, currículos e suas ações, criativamente, conduzindo-os para
atender a verdadeira realidade do país (SILVA,1996).
A Extensão Universitária representa, também, um
processo de avaliação institucional ao mostrar a imagem da universidade para a
sociedade na qual está inserida. Essa imagem poderá ser boa ou ruim. É a ação
extensionista que identifica a maneira como a Instituição de Ensino Superior
(IES) trata a população com quem interage ao executar o que está anunciado na
Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que estabelece no artigo 43- VI, como missão
da educação superior: “estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente
em particular os nacionais e regionais, bem como prestar serviços
especializados à comunidade e estabelecer com esta, uma relação de
reciprocidade”. No parágrafo seguinte do mesmo artigo, menciona que essa
prestação de serviços se implementa ao promover a extensão aberta à
participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios da
criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.
Pelos documentos consultados, parece inegável a
oportunidade que a Extensão Universitária oferece aos alunos universitários, de
colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula. A possibilidade
de ensino-aplicação, onde mostra que o verdadeiro conhecimento só é adquirido
com a execução desses dois elementos (SILVA, 1996).
Sobre o
tema Extensão Universitária, encontramos
quatro momentos de sua conceituação e prática. Serrano (2006) apresenta uma
análise crítica, com fundamentação nas idéias de Freire (2006), de quatro
movimentos expressivos do conceito de Extensão Universitária na história das
universidades.
O primeiro movimento é o modelo de transmissão
vertical do conhecimento, no qual Serrano (2006) justifica que vários autores
trabalham com a premissa de que foram as primeiras escolas gregas, com suas
aulas abertas ao público, um dos primeiros movimentos de Extensão
Universitária.
A origem da Extensão começou a ocorrernas
universidades europeias medievais, em especial na Universidade de Bolonha.
Nesse momento, a prática pedagógica acontecia de forma verticalizada, em que a
transmissão do saber acontecia de forma autoritária e, apesar de manter uma
perspectiva dialética, o conhecimento era pouco transformador da realidade.(segundo
Serrano, p.2). Assim dialogando com o pensamento freiriano, Serrano faz uma
análise crítica dessa prática de extensão:
No diálogo com o pensamento freiriano podemos
analisar estas práticas de extensão a partir da crítica feita pelo educador ao
processo verticalizado e que “coisifica” o homem. E com base na categorização
feita por Freire em seu trabalho “Extensão ou Comunicação” (2006), podemos
apresentar este momento inicial da extensão como um momento autoritário da
universidade, que desconhecendo a cultura e o saber popular, apresentava-se
como detentora de um saber absoluto, superior e redentor da ignorância
(SERRANO, 2006, p.2).
A crítica é feita pelo fato do conhecimento,
nesse caso, ser transmitido e não construído junto com os que participam da
ação; parte-se da ideia de que há um messianismo de quem está ensinando, e quem
os recebe são apenas sujeitos passivos do processo.(FREIRE, 2006, apud
SERRANO,2006).Assim, Freire (2006) sugere o rompimento com esse modelo de
extensão verticalizada, no qual um ator é sujeito e o outro objeto, para uma
relação em que todos possam ser sujeitos, agindo e pensando criticamente.
Já o segundo movimento é o voluntarismo – a ação
voluntária sociocomunitária, movimento que ocorre de forma mais politizada e
ropme com a verticalização do conhecimento. Nesse momento, a Extensão
Universitária passa por experiências com a Igreja a partir das ações educativas
dos jesuítas na Idade Média, já que as ações educativas eram desenvolvidas do
lado de fora do colégio dos jesuítas, “fora dos muros de seus colégios”,
objetivando a filantropia (SERRANO,2006). Além disso, de acordo com Rocha(2006
apud SERRANO, 2006) a Extensão Universitária nesse momento tinha um caráter
revolucionário porque, principalmente na América Latina, o Movimento Estudantil
tornava-se um marco de novos paradigmas para a Extensão Universitária, quando
docentes e discentes pensavam nas mudanças sociais através da militância
política:
Como consequência do movimento produzido pelas
ações educativas desenvolvidas pelos jesuítas “fora dos muros de seus
colégios”, que tinham como objetivo a ação filantrópica, o atendimento aos
pobres; bem como do movimento cooperativista do século XIC, de Owen; e dos
ideais de liberdade surgidos principalmente nas Américas contra o jugo europeu,
o movimento estudantil passa a questionar as práticas dissociadas dos problemas
locais e as ações pontuais desenvolvidas pelas universidades até então, na
forma de cursos (SERRANO, 2006, p.4).
Os autores ROCHAe SERRANO, (2006) apontam a
Universidade de Córdoba, na Argentina, como um marco no movimento da Exensão Universitária
quando os estudantes passam a assumir o poder na Universidade Católica que ali
existia. Assim, no Brasil, desde a Colônia, a força política dos jovens universitários
é bem notória, principalmente daqueles que estudavam fora do país e que puderam
trazer a influência do movimento dos trabalhadores ingleses e dos ideais da
Revolução Francesa que contribuiu para a crítica dentro das universidade
brasileiras.
A partir das ações do Movimento Estudantil de
Córdoba, praticando a extensão tendo como meta a construção de uma universidade
integrada ao povo e a vida nação, no
Brasil, Jesine (2001 apud SERRANO, 2006) cita como influência do movimento a
criação das primeiras universidades populares brasileiras, que são conhecidas
como Universidades Livres, cujas primeiras a serem criadas foram as de Manaus,
em 1909, no ciclo da borracha e a do Paraná e a de São Paulo,em 1911. Nesse
sentido, o Papel da Extensão Universitária cumpria um diálogo entre o saber
produzido nas universidades com a cultura local e desta com a cultura
universitária. Assim, no final da década de 1930 e início da de 1940, no
Brasil, as práticas educativas em extensão aconteciam muito com o objetivo de discutir
e solucionar os problemas sociais (SERRANO, 2006).
Para fazer a “Extensão”, Freire (2006 apud
SERRANO, 2006) considera que devemos compreender o outro como sujeito
histórico, cultural, tendo como atitudes o respeito pelos seus valores e
cultura e possamos assumir um compromisso com as mudanças.
O terceiro movimento é a ação sociocomunitária
intitucional, na qual o Decreto 19.851, de 11 de abril de 1931, regulamenta o
Estatuto das Universidades Brasileiras. A partir desse Decreto, passa a existir
uma normatização a respeito dos objetivos da extensão e, nesta normatização,
percebe-se a institucionalização da extensão focada na forma de cursos e tomada
como um caráter messiânico.
Observa que os objetivos dessa extensão seria a
propagação de uma classe hegemônica que estaria no poder. Assim, o autor a
definia como uma forma de extensão manipuladora. Nesse sentido, o movimento das
Universidades Populares, assim como o Movimento Etudantil, foi a resistência
contra essa perspectiva domesticadora porque levava os estudantes à troca de
experiências com a comunidade, participando e tentando compreender a vida
social brasileira. Porém, com as décadas de 1960 e 1970, no período de
ditadura, o governo militar institui no Brasil programas que faziam com que os
estudantes atuassem em projetos que estivessem desvinculados das instituições
universitárias, nos quais os estudantes eram apenas executores (SERRANO, 2006).
Assim caracterizava-se o movimento sociocomunitário institucional:
Assim surge o movimento de ação sócio-comunitária
institucional, que em sua natureza institucional tinha o vício de não ser
vinculada as uinversidadese sua natureza institucional tinha o vício de não ser
vinculada as unirsidades e sua prática sócio-comunitária não era sistemática,
nem sistêmica, os estudantes eram levados a conhecer apenas parte da realidade
trabalhada e não estabeleciam vínculos mais permanentes com o local (SERRANO,
2006, p.8).
O quarto movimento é o acadêmico institucional,
movimento baseado nas idéias e práticas de Paulo Freire que institucionalizam
as práticas da Extensão Universitária. As idéias de Paulo Freire que começaram
a ser colocadas em prática com a Extensão Cultural na Universidade de Recife,
no começo dos anos 1960, representando uma visão emancipadora, foram retiradas
pela ditadura militar e, só a partir dos anos 1980, é que passaram a
fundamentar os conceitos e práticas da extensão.
Foi nesse momento, que houve a instalaçao do
Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas
Brasileiras em 1987. A primeira reunião do Fórum determinou que a extensão
tivesse como objetivos a viabilização da relação transformadora entre
Universidade e Sociedade:
A criação do Fórum Nacional ocorre tendo como
base algumas questões já consensuais entre seus membros participantes, as quais
seriam o fundamento para elaboração das políticas de Extensão.Isso significa
que o entendimento entre Pró-Reitores se deu a partir dessas idéias
consensuais, que podem ser apreendidos como conclusões dos documentos dos
encontros regionais. São elas: o compromisso social da Universidade na busca da
solução dos problemas mais urgentes da maioria da população; a
indissociabilidade entre as atividades de Ensino, Extensão e Pesquisa; o
caráter interdisciplinar da ação extensionista; a necessidade de
institucionalização da Extensão no nível das instituições e no nível do MEC; o
reconhecimento do saber popular e a consideração da importância da troca entre
este e o saber acadêmico; e a necessidade de financiamento da Extensão como
responsabilidade governamental (NOGUEIRA,2001,p.67).
Legitimando a extensão acadêmico-institucional
nas Universidades, em 1998, o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão
Universitária das Universidades Públicas Brasileiras elaborou o Plano Nacional
de Extensão Universitária, que teve como objetivo:
1)Reafirmar a extensão universitária como
processo acadêmico definido e efetivado em função das exigências da realidade,
indispensável na formação do aluno, na qualificação do professor e no intercâmbio
com a sociedade;
2) Assegurar a relação bidirecional entre a
universidade e a sociedade, de tla modo que os problemas sociais urgentes
recebam atenção produtiva por parte da universidade;
3) Dar prioridade às práticas voltadas para o
atendimento de necessidades sociais emergentes, como as relacionadas com as
áreas de educação, saúde, habitação, produção de alimentos, geração de emprego
e ampliação de renda;
4) Estimular atividades cujo desenvolvimento
implique relações mulit, inter e/ou transdisciplinares e ininterprofissionais
de setores da universidade e da sociedade;
5) Enfatizar a utilização de tecnologia
disponível para ampliar a oferta de oportunidades e melhorar a qualidade da
educação, aí incluindo a educação continuada e a distância;
6) Considerar as atividades voltadas para o
desenvolvimento, produção e preservação cultural e artística como relevantes
para a afirmação do caráter nacional e de suas manifestações regionais;
7) Inserir
a educação ambiental e o desenvolvimento sustentado como componentes da
atividade extensionista;
8) Valorizar os programas de extensão
interinstitucionais, sob a forma de consórcios, redes ou parcerias, e as
atividades voltadas para o intercâmbio e a solidariedade internacional;
9) Tornar
permanente a avaliação institucional das atividades de extensãp universitária
como um dos parâmetros de avaliação da própria universidade (BRASIL,
2007,p.17).
Essas características ressaltam o pensamento
freiriano no conceito da Extensão das Universidades Brasileiras. No entanto, a
autora ressalta que as universidades brasileiras estão longe do cumprimento do
Plano Nacional de Extensão e que ainda há um caminho longo a ser trilhado,
segundo Serrano.
Nos anos 70, as elites internacionais adotaram um
novo modelo polítoco-econômico, chamado por muitos de neoliberal. Esse modelo,
implementado nos países desenvolvidos a partir da década de 1970, tem como
pressuposto básico a redefinição dos papéis econômicos e políticos do Estado.
O neoliberalismo utiliza como estratégia
governamental, a redução de gastos do Estado com as políticas sociais, o que
vem fazendo com que os Estados diminuam o nível de proteção social às suas
populações.
Demo (1995), mesmo alertando que um fenômeno tão
complexo não poderia ser resumido em cinco pontos, aponta como características
desse modelo:
a)
privilégio das relações de mercado como regulador da economia e da
sociedade;
b)
liberdade de iniciativa privada produtiva como expoente maior da
realização humana histórica, à qual todas as outras liberdades se submetem,
inclusive os direitos humanos e a eqüidade; (Grifos nossos)
c)
concepção de Estado mínimo e subserviente ao processo produtivo,
acompanhada de atitude agressiva contra empresas estatais, gastos públicos,
funcionalismo, etc; mesmo cabendo ao Estado compensar as mazelas do mercado,
geralmente reconhecidas como inevitáveis(...) deve sobretudo preservar “as leis
do mercado”;
d)
entendimento tendencial das políticas sociais como gasto duvidoso, tática
de controle e desmobilização popular, esquema de acomodação da mão-de-obra,
expediente de clientelismo e paternalismo; a pobreza é inevitável e mormente
produto da incompetência diante das relações de mercado, já que somente o
“competente” se estabelece;
e)
hipostasia do mercado como instância intocável, regido por leis dadas, às
quais toda e qualquer história precisa de curvar, quer se trate de relações
comerciais entre países, blocos e regiões, que se trate de relações sociais em
plano micro-social.
Dentro da concepção neoliberal de Estado e
relações sociais, o mercado transformou-se em uma instituição a-histórica,
acima das pessoas e da sociedade. A privatização das coisas públicas é uma das
suas marcas principais.
Mediante a aplicação de uma
política de descentralização autoritária, e, ao mesmo tempo, mediante uma
política de reforma cultural que pretende apagar do horizonte
Através
dos direitos e redefinição de termos como “direitos”, “cidadania”,
“democracia”,o neoliberalismo estreita e restringe o campo social, cultural e
político, esmagando as identidades culturais e obrigando as pessoas a viverem
num ambiente de competitividade e individualismo. Quando “a democracia
educacional é redefinida como a democracia do consumo no supermercado
educacional” (Silva,1996a), a educação deixa de ser “direito do cidadão”,
passando a ser “direito do consumidor”.
Como treinamento para o mercado é notoriamente
discriminatória a redefinição da educação e pode acentuar as desigualdades, nas
medida em que as mudanças propostas visam as crianças e jovens de classes
populares. As classes e grupos sociais privilegiados continuam a ter acesso aos
conhecimentos que lhes garantam desenvolvimento intelectual e sua posição
econômica, política e social.
O projeto de educação no Brasil que vem se apresentando a sociedade
não foge a essa lógica. Caminha-se para a constituição de dois sistemas de
educação: um para os que podem pagar, cuja essência é a formação geral e
propedêutica, com vistas a possibilitar a continuidade dos estudos. Outro,
destinado às classes populares e grupos sociais não pertencentes à esfera do
poder, constituído de mero treinamento de mão-de-obra e de uma produção de
identidades determinadas. Ao que parece, este último pretende dar terminalidade
aos estudos, impossibilitando sua continuidade. Trata-se de acessos
diferenciados ao conhecimento, que não só estabelecem lugares de classe mas que
também estabelcem o lugar dos grupos discriminados.
Apesar das dificuldades enfrentadas no Brasil na década de 80, após o término do regime
autoritário, na área educacional ocorreram avanços políticos que resultaram no
estabelecimento da educação como direito social na Constituição Federal de 1988.
A Constituição assegurava, dentre outros direitos dos cidadãos, a educação
básica, como um direito de cada indivíduo. Além disso, instituía que o ensino
público teria que ser proporcionado gratuitamente desde o básico até o superior
(BROCK E SCHWARTZMAN, 2005).
Na Constituição Federal de 1988 norteou a
legislação futura, seja no âmbito dos Municípios, dos Estados, e do Distrito
Federal, dando origem a novas leis de regulamentação dos artigos
constitucionais e estabelecendo diretrizes para educação brasileira.
A Declaração Mundial Sobre Educação Para Todos
tem em seu artigo 3º da CF/1988 itens importantes que dizem respeito à educação e a promoção da equidade
que devem ser descatados:
1-
A Educação básica para todas as crianças, jovens e adultos através da
universalização, melhoria da qualidade e da tomada de medidas para redução das
desigualdades;
2-
Equidade do ensino , oportunidade do alcance e manutenção de um padrão mínimo de qulidade de
aprendizagem a todas as crianças jovens e adultos;
3-
Priorização da melhoria da qualidde e garantia do acesso a educação (...)
no âmbito daeducação;
4-
Comprometimento de superação das disparidades educacionais, no que diz
respeito o acesso as oportunidades educacuionais nos grupos excluidos (...) e
os podvos submetidos a um regime de ocupação;
5-
Igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de
deficiência e garantia de integração do sistema educativo.
No Censo Escolar de 2010, notamos o quanto as escolas públicas
brasileiras apresentam um quadro de precariedade no tocante às estruturas
físicas e materiais, fator que influenciou de maneira negativa no
desenvolvimento dos estudantes da educação básica.
Conforme Souza (2011, p.1): o Censo Escolar do Ministério da Educação
(MEC), feito em 2010, registrou que 27 milhões de estudantes de ensino fundamental
e médio, cerca de 70% do total de matriculados nas redes públicas, frequentavam
estabelecimentos sem laboratório de ciência ou informática, biblioteca e quadra
de esportes. A inexistência de bibliotecas era realidade para 15 milhões (39%),
enquanto 9,5 milhões (24%) estavam matriculados em escolas sem laboratório de
informática, e 14 milhões (35%), em unidades sem quadra esportiva. Há um quadro
de desigualdade social na educação básica que persiste durante décadas. Na
década de 1990, Sampaio et al.(2000) observaram, com base nos indicadores do
PNAD/IBGE, que apenas 2,9% dos jovens brasileiros de cor negra ou parda, filhos
de mães com baixa escolaridade e com renda familiar até dois salários mínimos,
conseguiram concluir o Ensino Médio. Por outro lado, 80,4% dos jovens
brasileiros brancos, filhos de mães com mais de 11 anos de estudo, renda
familiar superior a 20 salários mínimos, tinham completado o Ensino Médio na
idade considerada adequada. Sampaio et AL.(2000) concluem que as chances de
ingresso no Ensino Superior estão relacionadas com a renda familiar e com o
nível de escolaridade dos pais. No entanto, para os poucos que conseguem ter
acesso, os estabelecimentos públicos constituem uma alternativa para a
conclusão do Ensino Superior.
Ainda são marcantes as desigualdades no acesso ao Ensino Superior entre
os jovens negros e pardos entre 18 a 24 anos. Quando se considera a variável
renda, verificamos que as taxas de frequência oscilam de 5,6%, para os que têm
rendimentos mensais per capita de meio a um salário mínimo, até 55,6%, para os
jovens que se encontram na faixa de cinco ou mais salários mínimos. Outro
grande diferencial é apontado a partir da localização do domicílio: “neste
caso, 17,5% dos jovens residentes em áreas metropolitanas frequentavam a
educação superior, em 2007, enquanto o índice era de apenas 3,2% entre
moradores de áreas rurais”.
As desigualdades referentes ao que os autores denominam raça e cor
também foram identificadas na pesquisa, indicando que os negros apresentam taxa
de 35% menor das registradas entre brancos.
Dias Sobrinho (2009) indica, com base em indicadores do PNAD/IBGE 2008,
que 48% da riqueza brasileira é apropriada pelos 10% mais ricos, enquanto que
18% são distribuídos entre os 50% mais pobres. Ainda, dos 190 milhões de
brasileiros, cerca de 60% recebem em média R$ 455,00, e mais de 85% da
população nordestina não ganha sequer um salário mínimo. Assim, o autor não
separa a pobreza de boas condições educacionais, já que os brasileiros mais
pobres não chegam a completar cinco anos de escolaridade, enquanto os mais
ricos ultrapassam dez anos. Em 2009, 87% dos jovens de 17 a 24 anos estavam
fora do Ensino Superior e, ainda, havia mais de 14 milhões de analfabetos
adultos com mais de 25 anos.
Considerando as desigualdades e pensando em nosso objeto de estudo, o
gráfico mostra-nos a porcentagem de estudantes de escolas públicas que
ingressaram nas universidades públicas no estado do Rio de Janeiro.
Sabemos que no Brasil as universidades públicas são conhecidas por
possuírem mais qualidade e “prestígio” que as universidades e faculdades
privadas.
Nesse sentido, a maioria dos jovens que vão para as instituições
privadas são aqueles que cursam o Ensino Médio em escolas públicas e que não
conseguem passar nos exames vestibulares dessas universidades. Isso quando
prestam os vestibulares, porque a maioria nem sequer tem conhecimento ou
ualquer tipo de acesso às universidades públicas. Assim, a grande maioria dos
jovens brasileiros que ingressam no Ensino Superior estuda em universidades
privadas, as quais procuram manter apenas um padrão mínimo de qualidade.
No governo FHC, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, universalizando o Ensino Fundamental, começa a haver um
aumento do número de matrículas no Ensino Médio. Desse modo, os estudantes que
concluíam essa etapa de ensino passaram a procurar a etapa subseqüente, o
Ensino Superior.
Nesta época, o número de matrículas do Ensino Médio brasileiro mais que
dobrou, passando a atender uma nova parcela da população, antes excluída.Nesse
sentido, os certificados do Ensino Médio foram generalizando-se e, a partir
desse fato, muitos passaram a buscar o diploma superior como forma de
diferencial na conquista do emprego.
Para suprir a demanda, em um contexto de reformas neoliberais, o governo
ampliou o acesso para o Ensino Superior com o aumento das Instituições de
Ensino Superior privadas por todo país que, ao longo dos anos, começaram a
apresentar, pelas avaliações do MEC, suas deficiências de ensino.
Para absorver esse grande público que acabava de se formar no Ensino
Médio e que estava em busca de vagas no Ensino Superior, o governo brasileiro,
por meio do Ministério da Educação, instituiu o Decreto nº 2.406/97 que cria a
figura dos centros universitários. Os dados do MEC/INEP(Sinopse Estatística da
Educação Superior/2000) demonstram que 98% desses centros universitários
pertencem à iniciativa privada. São cursos de Direito, Administração, Economia
e algumas Licenciaturas. Muitas dessas instituições ainda não tiveram seus
cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), o que faz com que os
estudantes que frequentam tais cursos não tenham garantia de receberem a
validade do diploma.
Para saber medir a qualidade dos cursos, nos moldes de como a avaliação
do Ensino Superior é feita pelo governo, possuem qualidade os cursos que: a)
apresentam bom desempenho em uma prova limitada; b) recebem uma avaliação
positiva do alunado nos insumos mais influentes no resultado da prova; e c)
apresentam um corpo docente titulado.
Essa concepção de qualidade, assim como o aumento das instituições de
ensino superior privadas, vem sendo adotada de acordo com a implantação das
políticas neoliberais no contexto da globalização. Essa política teve grande
expressão no Brasil na segunda metade dos anos 1990, com o presidente Fernando
Henrique Cardoso, que iniciou o processo de reforma do Estado e, nesse sentido,
fez com que a educação fosse submetida a amplas reformas com o objetivo de
formar a população com os conteúdos mínimos postos pela mundialização do
capital, tornando cada cidadão apto para o trabalho.
Nesse processo de implantação das políticas neoliberais, a educação
superior sofre uma reorientação de acordo com os princípios e a lógica do
mercado. Assim, as avaliações da educação superior passaram a ser feitas de
forma rápida, objetiva e que tenham, sobretudo, a legitimação por parte do
conjunto da sociedade.
Nas políticas setoriais públicas, as preocupações centrais consistem na
organização de sistemas de informação e de controle através da elaboração e
execução de um forte aparato legal normativo sempre acompanhado de processos de
regulação, avaliação e acreditação. Na agenda brasileira de educação superior
aparece, com grande relevo, a questão da ampliação das matrículas e o controle
das aprendizagens estudantis exercida por meio de exames de larga escala. São
medidas socialmente valorizadas e de grande apelo político, especialmente
quando publicam informações quantitativas. Do ponto de vista dos responsáveis
por essas políticas oficiais, a qualidade que vige nesses instrumentos e
programas e deles resultam se considera tecnicamente legitimada pela
objetividade de suas medidas, quantificações e procedimentos metodológicos e
eticamente justificada ao se tornar transparente à população em geral e aos
potenciais ‘clientes’. ( DIAS SOBRINHO, 2009,p.227).
No governo FHC foi feita intensa propaganda do Exame Nacional de Cursos,
o “Provão”, que começou a ser aplicado para os estudantes do último ano de
graduação como um modo de avaliar os respectivos cursos de graduação. A
imprensa passou a fazer ampla divulgação desse exame e as instituições privadas
que saíam bem no exame passavam a fazer propagandas para divulgarem seus
cursos; as instituições que não obtinham um bom resultado poderiam ser
fechadas.
Esse modo de avaliação demonstra que o padrão para medir qualidade está
pautado em números e que o importante são os índices estarem de acordo com os
padrões ditados pelas políticas externas.
No governo Lula, a ampliação do acesso ao Ensino Superior se deu,
principalmente, pela via privada. Contudo, houve o aumento das Instituições
Federais de Ensino Superior e a criação de políticas públicas como o Pro Uni e
a reformulação do Fies. Ainda assim, mesmo com tais políticas, a lógica
privatizante do governo prevaleceu, conforme aponta Dias Sobrinho (2009,
p.1235):
Há 1.479.318 vagas não preenchidas, 98% delas no setor privado. Essa
grande quantidade de vagas privadas aponta para uma tendência de saturação da
demanda outrora reprimida e, o que é muito grave, para a incapacidade de uma
boa parcela de jovens, que se calcula em volta de 25%, para pagar mensalidades
e assegurar sua permanência no curso, até mesmo se esse lhes fosse gratuito.
Entre as principais causas da evasão, superior a 25% no segmento privado,
certamente se incluem as carências econômicas. A ociosidade e a evasão indicam
que há uma grande disponibilidade de vagas no setor privado. Dadas as severas
restrições econômicas das classes pobres, essas vagas acabariam não sendo
ocupadas, a não ser por políticas públicas. Daí o evidente interesse dessas
instituições em disputar as matrículas de beneficiários de políticas públicas.
As políticas públicas realizadas no governo Lula, como o Pro Uni, o
ReUni e o aumento dos institutos de tecnologia de educação a distância, são
políticas que o governo considerou chamar de políticas democratizantes. (
BARREYRO; ROTHEN, 2011).
Carvalho (2006) questiona o Pro Uni como política pública de
democratização. O Pro Uni surge no governo Lula com um discurso de justiça
social, tendo como público alvo os estudantes carentes, cujo critério para que
façam parte do programa é a renda per capita familiar e o estudo em escolas
públicas ou privadas desde que na condição de bolsistas. O programa estabelece,
obrigatoriamente, que parte das bolsas deva ser direcionada a ações
afirmativas, aos portadores de deficiência, ao negro e indígena. Além disso, a
formação de professores de ensino básico da rede pública também consta como
prioridade. No entanto, a crítica ao programa surge porque o acesso ao ensino
superior de qualidade fica restrito a uma pequena parcela da população, pois a
maioria dos jovens que cursam o Ensino Médio em escolas públicas não consegue
passar nos exames vestibulares de universidades tidas como de alto prestígio
social e nos cursos mais disputados. Com isso, acabam aderindo a programas como
o Pro Uni.
A implementação de políticas públicas focadas e emergenciais não
extingue o caráter desigual da sociedade classista. As relações de seleção e
diferenciação social se preservam, até mesmo se aprofundam, no interior do
sistema educativo. A distribuição e a qualidade dos conhecimentos são muito
variáveis e cumprem funções distintas na sociedade de classes. Não basta
qualquer saber, não é indiferente qualquer curso e qualquer diploma. Mesmo
entre os formados em cursos superiores se mantém uma hierarquia, de tons e
graus variados, entre os formados em instituições de elite e os egressos de
cursos de circuito popular.
Os programas democratizantes do governo Lula foram criados para atender
à população mais carente que estaria sendo inseridas, raras as exceções como a Pontifícia
Universidade Católica (PUC) ou a Mackenzie, que representam alto padrão de
qualidade em seus cursos, em instituições de Ensino Superior onde se mantém o
padrão mínimo de qualidade, conforme nos mostram os moldes de avaliação da
educação superior no governo FHC e que se mantém no governo Lula, como veremos
adiante.
Com relação ao programa ReUni, este se apresenta como uma das ações que
integram o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Iniciou seu plano de
expansão em 2003 e tinha previsão para terminar em 2012(MEC, 2010).
O ReUni apresenta os seguintes objetivos:
Elevar a taxa de conclusão dos cursos de graduação para 90%; aumentar o
número de estudantes de graduação nas universidades federais; aumentar o número
de estudantes por professor em cada sala de aula da graduação; diversificar as
modalidades dos cursos de graduação por meio da flexibilização dos currículos,
da criação dos cursos de curta duração e/ou ciclos (básico e profissional) e da
educação a distância, incentivando a criação de um novo sistema de títulos e a
mobilidade estudantil entre as instituições (púbicas e/ou privadas) de ensino.
Todas estas ações deverão ser realizadas no prazo de cinco anos.
Para os que se colocam contrários ao ReUni, um dos problemas que o
programa apresenta seria aumentar a relação de em média 14,5 estudantes para um
professor para dezoito por professor. Nesse caso, agir dessa forma seria a
maior prova de que o governo Lula quer melhorar as estatísticas, priorizando a
quantidade ao invés da qualidade. O número de estudantes vai aumentar cada vez
mais, então, o número de professores deveria acompanhar o mesmo ritmo. Porém, o
que se prevê é um maior desgaste do docente. As metas são o primeiro sinal do
que se esconde por trás da proposta, mas é preciso saber compreende-las. Entre
elas, as principais são: dobrar as matrículas nos cursos de graduação; elevar a
taxa de conclusão para 90% e estabelecer uma relação professor- aluno de 01h18min,
tudo em cinco anos. A princípio, tudo de bom. Quem pode ser contra expandir as
vagas e diminuir a evasão. A verdade, porém, é que tais indicadores são
absurdos. Uma taxa de conclusão de 90% não existe sequer nos países de
desenvolvimento industrial avançado (a média da OCDE é de 70%). Já a relação
professor-aluno de 01h18min (a média atual é de cerca de 01h14min),
considerando-se a existência de professores em atividades administrativas e de
disciplinas práticas com limitações técnicas que exigem número reduzido de
alunos (pensemos numa turma de prática de neurocirurgia, por exemplo, e
avaliemos se ela pode ter mais de três alunos), significa na prática que as
turmas da maioria dos cursos, especialmente as dos primeiros períodos, terão
média superior a 70 estudantes, e não há sequer salas de aula suficientemente
grandes para isso. Com o Decreto supõe que as Universidades possam chegar a
cumprir tais metas (MATTOS, 2007, p.17).
O ReUni é mais uma política que segue as regras ditadas pelo Banco
Mundial, que elabora políticas para os países periféricos. Os organismos
internacionais nos impõem as regras e temos que cumpri-las dentro de um período
curto para que os números sejam elevados e apresentados, como se o padrão de
qualidade pudesse ser medido por números.
Além das políticas ditas democratizantes Pro Uni e ReUni, as políticas
para a educação superior no governo Lula visava a ampliar o número de
Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), bem como aumentar os cursos de
Educação a Distância (EaD).
Em virtude da baixa frequência à educação superior e das desiguais
sociais oportunidades de acesso a esse nível de ensino, o governo federal
adotou um conjunto de ações e medidas de política com vista a, se não reverter,
atenuar esse quadro. As ações de maior vulto do MEC visam à ampliação das
oportunidades de acesso. Sob tal enfoque cabe salientar as iniciativas em curso
que se propõem a aumentar substancialmente a oferta de vagas, por meio da
expansão da rede de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes).
Além do aumento da oferta de vagas em cursos presenciais, tem sido
expressivo o crescimento das matrículas na modalidade de EaD. Tais iniciativas
inserem-se no compromisso do MEC de dobrar o número de matrículas, no âmbito
das Ifes, no prazo de 10 anos.
O programa Universidade Para Todos (PROUNI), a EaD é claramente tomada
como modalidade de ensino para a aceleração rápida da expansão de vagas no
ensino superior.
Uma pressão para que vagas sejam ampliadas no Ensino Superior, sobretudo
por conta da demanda de estudantes que saem do Ensino Médio e querem ingressar
na etapa subsequente. Essa pressão faz com que o governo crie medidas de
ampliação de vagas como a EaD, por exemplo, que são medidas mais baratas para
as instituições privadas.
No que diz respeito à qualidade das instituições de Ensino Superior no
governo Lula, observamos a criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (SINAES).
A questão da “democratização” da educação superior adquiriu fôlego
nestas últimas décadas e entrou fortemente na agenda das políticas públicas.
Assim, as políticas públicas destinadas ao Ensino Superior aparecem atreladas
ao desenvolvimento do mercado. Dessa forma, a “democratização” e a expansão do
Ensino Superior não são sinônimos de permanência e, muito menos, qualidade no
ensino:
[...] uma educação de baixa qualidade, mesmo que insatisfatória, ainda é
melhor que nenhuma, pois de alguma forma, colabora para elevar o patrimônio
coletivo de conhecimentos e competências profissionais de uma nação. Em que
pese não ser nula de valor e até contribuir para uma melhora de indicadores
sociais, a educação de baixa qualidade está longe de poder resolver os
problemas de justiça social, pois a maioria dos estudantes das escolas de
pífios desempenhos fica em condições desvantajosas em relação àqueles de
estratos sociais mais bem aquinhoados. Estes podem mais facilmente construir um
itinerário educativo compatível com as demandas de alta competitividade que a
sociedade de economia global está a exigir.
Nesse sentido, os cursinhos pré-vestibulares da UFF têm trabalhado na
perspectiva de diminuir a injustiça social no que tange ao acesso ao Ensino
Superior de qualidade a uma população que chega despreparada para prestar os
vestibulares mais concorridos do país.
A implementação dessa política na UFF, perto das desigualdades sociais e
das injustiças que vivemos em nosso país, parece não surtir muito efeito se
formos analisar o baixo número de estudantes que frequentam os cursinhos da UFF
perto da grande parte dos jovens no país que hoje não estão na universidade ou,
até mesmo, que deixaram o Ensino Médio para trás.
Contudo, consideramos importante analisar essa política de extensão e
verificar como esses cursinhos estão contribuindo para colocar esses estudantes
nas universidades públicas, porque consideramos que muitos atores que constroem
essa política estão na luta por melhorias da qualidade da educação no Brasil.
A educação no cenário social e político
brasileiro,numa tentativa de resolver a crise de acumulação capitalista
deflagrada, emescala mundial e iniciada nos anos 70, as elites internacionais
adotaram um novomodelo político-econômico, chamado por muitos de neoliberal.
Esse modelo,implementado nos países desenvolvidos
a partir da década de 1970, tem comopressuposto básico a redefiniçãodos papéis
econômicos e políticos do Estado.
O neoliberalismo utiliza como estratégia
governamental, a reduçãode gastos doEstado com as políticas sociais, o que vem
fazendo com que os Estados diminuam onível de proteção social às suas
populações.
Demo (1995), mesmo alertando que um fenômeno tão
complexo não poderia serresumido em cinco pontos, aponta como características
desse modelo:
a) privilégio das relações de mercado como
regulador da economiae da sociedade;
b) liberdade de iniciativa privada produtiva como
expoente maior darealização humana histórica, à qual todas as outras liberdades
sesubmetem, inclusive os direitos humanos e a eqüidade;(Grifosnossos)
c) concepção de Estado mínimo e subserviente ao
processoprodutivo, acompanhada de atitude agressiva contra empresasestatais,
gastos públicos, funcionalismo etc; mesmo cabendo aoEstado compensar as mazelas
do mercado, geralmente reconhecidascomo inevitáveis(...) deve subretudo preservar
“as leis do mercado”;
d) entendimento tendencial das políticas sociais
como gastoduvidoso, tática de controle e desmobilização popular, esquema
deacomodação da mão –de-obra, expediente de clientelismo epaternalismo; a
pobreza é inevitável e mormente produto daincompetência diante das relações de
mercado, já que somente o“competente” se estabelece;
e) hipostasia do mercado como instância
intocável, regido por leisdadas, às quais toda e qualquer história precisa de
curvar, quer setrate de relações comerciais entre países, blocos e regiões, que
sertrate de relações sociais em plano micro-social. global que se insere a
redefinição da educação em termosde mercado.(Silva, 1996a).
Especificamente no campo educacional, as
políticas orientadas pelo modeloneoliberal, atacaram e continuam atacando a
escola pública a partir de estratégiasprivatizantes, subordinando osobjetivos
da escola aos objetivos da empresa.
Esseprocesso tem como uma das finalidades a
conformação dos trabalhadores aos requisitosde aumento da competitividade
empresarial.
A privatização da escola não significa
necessariamente a entrega da educação àiniciativa privada, mas fazer a escola
pública funcionar de acordo com as regras domercado.
Ou seja, uma privatização que se dámediante a
aplicação de uma política de descentralizaçãoautoritária e, ao mesmo tempo,
mediante uma política dereforma cultural que pretende apagar do
horizonteideológico de nossas sociedades e a possibilidademesmade uma educação
democrática, pública e de qualidadepara as maiorias.
Uma política de reforma cultural que,em suma,
pretende negar e dissolver a existência mesmado direito à educação (GENTILI,
1995).
Silva, Tomaz Tadeu da. “A nova direita e as
transformações na pedagogia da política e na política dapedagogia”,inNeoliberalismo,
Qualidade Total e Educação (1996).
Gentili, Pablo. “Adeus à Escola Pública:
Adesordem neoliberal, a violência eo mercado e o destino daeducação das
maiorias”, in Pedagogia da Exclusão: Crítica ao neoliberalismo em educação
(1995).
A impressão que temos é que estamos atualmente
diante de um conjunto demedidas de uma reforma política e cultural que pretende
destruir a compreensão de quea educação é um direito.
Para Gentili(1995), dissolver a existência do
direito àeducação é uma das condições importantes para realizar com êxito as
políticasantidemocráticas do neoliberalismo. Tomaz Tadeu da Silva coloca essa
questão daseguinte forma:A presente ofensiva neoliberal precisa ser vista
nãoapenas como uma luta em torno da distribuição derecursos materiais e econômicos
(que é), nem como umaluta entre visões alternativas de sociedade (que tambémé),
mas sobretudo como uma luta para criar as própriascategorias, noções e termos
através dos quais se podedefinir a sociedade e o mundo (Silva, 1996a).
Com isso, estreita-se a noção de relações
sociais, ignorandose asrelações de poder entre classes, entre raças e etnias,
entre sexos, embora os discursoseducacionais defendam a pluralidade.
A conjugação desses elementostransformação da
educação em direito doconsumidor,sua despolitização e subserviência às regras
do mercado-constitui uma verdadeirapedagogia de exclusão, da qual as principais
vítimas a são as classes populares, osgrupos étnicos historicamente
discriminados e desfavorecidos.
Para a educação públicaessa é uma questão
crucial, poisbasicamente, o projeto educacional neoliberal buscadeslocar a
educação da esfera pública para a esferaprivada.
O objetivo do projeto neoliberal de educação éo
de, gradualmente, retirar a responsabilidade pelaeducação institucionalizada da
esfera pública do controledo estado e atrelá-la ao controle e à gerência
dasempresas privadas.
Nessa operação, a educação nãoapenas passaria ao
controle total de empresas privadas,mas estaria orientada diretamente pelas
necessidades eexigências de mãodeobra das empresas capitalistas(SILVA, 1996a).
Essa redefinição de educação como treinamento
para o mercado é notoriamentediscriminatória e pode acentuar as desigualdades,
na medida em que as mudançaspropostas visam as crianças e jovens de classes
populares.
As classes e grupos sociaisprivilegiados
continuaram a ter acesso aos conhecimentos que lhes garantamdesenvolvimento
intelectual e sua posição econômica, política e social.
No Brasil, o projetode educação quevem se
apresentando à sociedade não fogea essa lógica.Caminha-se para a constituição
de dois sistemas de educação:um para osque podem pagar, cuja essência é a
formação geral e propedêutica, com vistas apossibilitar a continuidadedos
estudos.
As políticas neoliberais colocam a sociedade
brasileira diante de questõescruciais.
Questões que tem que ver com a inclusão e
exclusão sociais, com opertencimento ou não pertencimento à esfera da
cidadania.
Questões que comprometemas propostas do ideal
democrático e o direito à educação de qualidade.
Tornam-se necessários umnovo projeto de sociedade
e propostas alternativasque possam ser colocadas em prática.
Mas também torna-se fundamental a criação
decondições culturais sobre as quais um novo projeto adquira sentido para a
sociedade.
Compreender a importância do fortalecimento da
escola pública para ademocracia e a justiça social, propor projetos
alternativos e políticas públicasdemocráticas para a educação, criar novas
pedagogias, propor conteúdos curricularesque valorizem a história, a cultura, a
reflexão e facilitem o surgimento de autonomia,buscar participação nos debates
e nas definições das prioridades políticas, em suma,lutar pela construção das
instituições sociais democráticas–entre as quais aescola–sãoquestões que
convidam as lideranças e os militantes de movimentos sociais eorganizações
populares à reflexão sobre seus projetos, sobre suaspráticas e a pensaremna
possibilidade de um amplo movimento social pela democratização da educação.
No panorama educacional no Brasil, cito a estratificação
educacional no sentido de desigualdade relacionada à chance das pessoas das
diferentes classes sociais no acesso ao sistema educacional, ou seja, as
classes populares têm menos chances que as outras classes.
A correção dessas desigualdades torna-se responsabilidade do
governo, que deve atuar, através de políticas públicas, na melhoria da
qualidade do sistema de ensino e ofertar aos indivíduos que se encontram em
posição desfavorável oportunidade de reverter este quadro.
Segundo Luz (2006) “esse processo de estratificação educacional
torna-se especialmente grave nos países menos desenvolvidos, onde a
desigualdade social é mais aguda e os insumos escolares mais escassos e pior
distribuídos” (LUZ, 2006).
A seguir abordaremos algumas desigualdades encontradas no processo
de estratificação educacional, ressaltando a igualdade de oportunidade e o
aceso à escola.
Segundo Brock e Schwartzman (2005), ressaltam que havia uma crença
baseada no senso comum, de que os problemas principais da educação brasileira
baseavam-se somente em falta de escolas ou falta de verba. Acreditava-se,
portanto, que seria necessário a construção de mais escolas, uma melhor
remuneração aos educadores e persuadir as famílias a mandarem seus filhos à
escola. O que realmente ocorria, segundo o autor, era que grande parte das
crianças iam à escola, porém, tinham um grau de aprendizagem ruim e abandonavam
os estudos no período da adolescência.
Uma pesquisa realizada pelo IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios, que o número de alunos matriculados no ensino básico regular eram
de 40 milhões, quando a população entre 7 e 17 anos era de 36,7 milhões,
ocorrendo, portanto um excedente de mais de 3 milhões de vagas. Diante disso,
Foram necessários alguns anos para convencer os políticos e a opinião pública
de que os principais problemas da educação brasileira eram: Má qualidade das
escolas existentes; O fato de que as crianças frequentavam a escola, porém
vários alunos passavam por ela sem aprender a ler e a escrever e, em alguns
casos abandonavam os estudos antes de completar a formação escolar; A defasagem
da qualidade do ensino, pela não apresentação de conteúdos de forma igualitária
a todas as crianças, tornando-se marcante para aquelas provenientes das famílias
menos desprovidas economicamente; E a cumplicidade das escolas, por não estarem
preparadas para compensação dessas diferenças (BROCK E SCHWARTZMAN. 2005).
O Brasil
ainda apresenta um dos mais elevados níveis de desigualdades no mundo,
principalmente no que se refere à educação. Portanto, por ser grande a
desigualdade, não existe equidade no acesso de recursos e benefícios na educação.
Bourdieu cita o desenvolvimento escolar das crianças, baseando-se em diferenças
de classe sociais, dando ênfase principalmente a oportunidade de acesso ao
nível superior. Segundo ele um jovem da classe alta tem 80% a mais de chance de
ingressar numa universidade que um jovem de classe baixa. Ele mostra as desigualdades existentes no êxito
escolar dos sujeitos nas diferentes classes sociais.
Segundo
Bourdieu, cada família transmite a seus filhos muitas vezes por forma indireta,
um capital cultural, um “ethos” que vem a ser um determinado modo de vida. Para
Bordieu, a transmissão desse capital cultural está relacionada ao diploma
obtido pelos pais que é o determinante do nível global de escolaridade do grupo
familiar. Apesar de reconhecer que isso não pode ser visto como regra, ele
afirma que existem variações nas análises em que os pais são de níveis
desiguais.
Na relação
existente entre pais e filhos no que diz respeito à reprodução do capital
cultural, esse processo de reprodução pode apresentar-se de forma positiva ou
como uma dificuldade encontrada pelas camadas populares com referência ao
acesso à educação, por estar diretamente ligada ao nível educacional dos pais.
O fato de os
pais de camadas populares apresentarem uma baixa escolaridade, quando
relacionado à escolaridade do filho, não os impedem de valorizar a educação
desses filhos. Muito pelo contrário, esses pais querem que seus filhos estudem,
mas alguns desses jovens até almejam chegar ao ensino superior. No entanto,
devido às dificuldades econômicas encontradas por vários anos da vida desses
jovens, eles são forçados a ter que conciliar os estudos com o trabalho. Na contramão
dessa situação, o estudo, ou seja, a qualificação educacional apresenta-se como
garantia de disputa no mercado de trabalho. De acordo com o autor “Para os
jovens das camadas populares, tanto a escola como a vida em geral são
experiências das desigualdades diante do trabalho, do consumo, do lazer, dos
direitos etc.”.
Como
verificado nos referenciais teóricos, em alguns casos os pais e as mães dos
jovens pesquisados revelam uma escolarização precária e repleta de
dificuldades, acarretando a alguns jovens a defasagem no processo relacionado à
idade, apresentando um quadro de atraso escolar. No entanto, esses fatores na
maioria dos casos não impedem, apesar dos entraves, que esses jovens alcancem
um nível escolar superior ao de seus pais.
O nível de
instrução dos jovens das famílias de camadas populares pesquisadas é limitado.
Algumas mães citam essa fase de amplo retardamento escolar dos alunos, como
sendo um período de escolarização “a reboque”, momento em que os filhos sentem
uma enorme dificuldade de passarem de série, como transpor da 5ª série para
outras séries do ensino fundamental. As mães utilizam nesta fase o termo que os
filhos “começam a patinar”. Coma utilização deste termo as mães tentam
expressar o problema enfrentado por seus filhos no âmbito do percurso escolar. (Zago,2003).
Porém, essa
dificuldade de igualdade de oportunidade, acesso, falta de motivação ou
baixa-estima, pode ser observada não somente no processo escolar dos alunos de
educação básica, fundamental e nível médio, como também, fazem parte do
processo de escolarização de jovens de camadas populares no aceso ao ensino
superior.
Os movimentos sociais surgiram como campo de
análise das ciências sociaise políticas na América Latina, na década de 70,
como conseqüência da emergência devárias manifestações e ações coletivas nesse
período.Embora não seja nosso propósito um estudo aprofundado a respeito do que
foiproduzido sobre o tema, cabe dizer que as análises sobre os Movimentos
Sociaisgeraram amplos debates e uma rica produção teórica.Essa vasta produção
é,evidentemente, resultado de um processo em que surgiram diferentes
movimentossociais.
A repressão da “ditadura civil-militar” para
suprimir e calar aqueles queinsistiam em reivindicar participação política,
fechando os canais de articulação, teve oefeitooposto, ou seja, incentivou o
surgimento de manifestações populares por moradia,terra, consumo, cultura etc
e, de certa forma, politizou a sociedade, que através dessasmanifestações
passou a exigir a democratização da política.
A educação ocupa um papel de destaque na dinâmica
e no conjunto dasreivindicações dos movimentos sociais.Nas várias formas de
lutas, sindicais,comunitárias, agrárias, culturais, dos novos movimentos
sociais, a educação faz partedas atividades.Sejam nas reivindicações por mais
escolas, por novas pedagogias econteúdos curriculares, no desenvolvimento de
atividades de formação de seusparticipantesou em campanhas de conscientização
dasociedade, a educação ocupauma posição de grande importância.
Os Movimentos Sociais, segundo Maria da Glória
Gohn(1992) aponta, na produção teórica sobre esta temática, o desenvolvimento
de doiscampos específicos: da educação popular e das ciências sociais.No
Brasil, os primeiros trabalhos teóricos sobre a relação entre a educação e
osmovimentos sociais se situam nos trabalhos educativos desenvolvidos em áreas
rurais eno campo da educação popular.
Na década de 80, a produção acadêmica sobre essa
temática se deslocaprincipalmente para a análise dos movimentos sociais urbanos
(mulheres, negros,moradores de bairros, etc.), que são iniciativas autônomas de
grupos ou entidades dasociedade civil, com programas de educação associados à
formação política de seusatores e formação de quadros para adireção de
movimentos, sindicatos e partidospolíticos.
No contexto político da década de 80 (abertura
política, reorganização partidária,retomada das lutas populares, surgimento
dos“novos movimentos sociais”etc), ondeemergiram ações coletivas paraas mais
variadas lutas, surgiu um tipo de experiência deeducação para
trabalhadores/estudantes que, mais tarde, tornou o Estado do Rio deJaneiro
arena de uma nova forma de mobilização, articulação e educação popular. OsCursos
Pré-Vestibulares Populares.Organizados pela sociedade civil, esses cursos
sãodirecionados aos estudantes de classes populares e de grupos sociais
discriminados.
Existem atualmente mais de uma centena de cursos
populares, só no Estado doRio de Janeiro.Alguns desses cursos são estritamente
comunitários, atuando apenas nopreparo de estudantes pobres para o
vestibular.Outros cursos, entretanto, atuam deforma mais abrangente, através de
práticas que não se restringem apenas ao ensino deconteúdos para o vestibular,
mas que tambémdirecionam suas ações para umquestionamento da instituição
educativa e como luta para romper as barreiras queimpedem o acesso de parcelas
discriminadas e economicamente desfavorecidas dapopulação ao ensino formal,
especificamente ao Ensino Superior.
Perspectiva incentivar a comunidade
afro-descendente e demais empobrecidosa entrarem na universidade buscando o
resgate de suaspotencialidades.Outro objetivo é o desenvolvimento de um
trabalho que nãotenha o cunho assistencialista e nesse sentido os alunos devem
assumiro compromisso de prestação de um trabalho comunitário “em
qualquerinstância organizativa”. O envolvimento comunitário é definido como
uma“prática de exercício coletivo em espaços organizativos que as
comunidadesviabilizam: centros comunitários, igrejas, atividades culturais e
esportivas,serviços comunitários, meio ambiente, etc., que reforcem a
organizaçãocomunitária.” (Centro de Educação
e Evangelização Popular.
Como foi
citado pelos primeiros autores, as primeiras experiências de pré-vestibular
para negros ocorreram na Bahia, depois se expandiu para outras regiões e chegou
ao Rio de Janeiro através do trabalho da Pastoral Negra e da Pastoral da
Juventude, quando passou a chamar-se curso pré-vestibular para negros e
“carentes”. Esses cursos além de preparar os estudantes para ingressarem na
universidade formam uma “consciência negra e de classe”. Para Mariz, Fernandes,
Batista (apud ZALUAR, 1998), “colocar negros e outros de origem popular em
universidades era uma proposta de luta
que aliava o progresso individual a uma luta social”.
De fato, através do trabalho de preparação para o
vestibular os Cursos Pré-Vestibulares Populares, reúne-se um número expressivo
de pessoas na luta pela democratização do acesso ao ensino superior e contra o
racismo e a discriminação. Para nós, isso caracteriza um movimento social,
mesmo que ainda não tenham conseguido construir uma identidade autônoma e um
projeto global de sociedade. Por isso, concordamos com a visão que o
caracteriza como um movimento social ainda sem projeto, não só pro ser a visão
que analisa os Cursos Pré-Vestibulares Populares como um movimento, mas por
constatar a necessidade de construção de um projeto político.
Os desafios que o Movimento Pré-Vestibular para Negros e Carentes no Rio
de Janeiro- e isso pode valer para os Cursos Pré-Vestibulares Populares de um
modo geral, assumiu para enfrentar, no sentido de constituir-se como um
movimento social expressivo e autônomo, são de duas ordens.
O primeiro desafio diz respeito ao que nos parece uma necessidade do
movimento: a organização, construção de identidade e sentido. O coletivo é o
sujeito dessa construção. A partir dos sentimentos, dos conhecimentos, da
imaginação, do esforço de construir uma prática política coletiva, autônoma e
produtora de autonomia, pode-se definir o papel dos seus fóruns e instâncias,
considerando a importância de constituir espaços de deliberações coletivas,
espaços de estudos e aprofundamento teórico, espaços de formulações de
estratégias e discussões sobre políticas públicas. Como nos ensina o professor
Milton Santos (2000), "gente junta cria cultura", ou seja, cria
valores, cria processos, cria políticas, cria sentidos, cria projetos.
Outro grande desfio está na instauração de um processo de construção de
um projeto político- seus valores, seus objetivos, suas propostas políticas,
culturais e pedagógicas. Um projeto, com elaboração coletiva, autônoma e
permanente, que se alimenta do exame da realidade social, dos conhecimentos,
das reflexões e propostas, da capacidade de resistência, criação e expressão instituinte
do próprio sujeito coletivo, é um desafio para movimentos sociais que buscam a
democratização das instituições e das relações sociais. A expressão da
intencionalidade política é importante para organizar as propostas, as práticas
e os processos de construção de identidade. Raça, gênero, território e classe
social são conceitos que podem ser articuladas nessa construção, pois são as
culturas tornadas marginais e os sujeitos historicamente explorados,
discriminados e excluídos que constituem a multidão, o ponto de partida, a
potência instituinte das transformações que precisam ser operadas na sociedade.
Esse processo começou a se concretizar com o primeiro encontro de
pré-vestibulares populares, que se realizou em maio de 2000, em Florianópolis,
Santa Catarina, e reuniu coordenadores, educadores e educandos de cursos dos
estados do Sul e Sudeste. A principal deliberação desse encontro foi a
realização de outro encontro de maior amplitude, que foi no Rio de Janeiro (2002)
e cujo principal objetivo foi a constituição de uma rede nacional de
pré-vestibulares populares.
Nos seus diversos fóruns de reflexão e deliberações coletivas, o
coletivo que compõe o PVNC tem feito esforços para construir propostas e formas
de luta pela ampliação das oportunidades educacionais para estudantes de
classes populares (defendendo a ampliação da educação pública de qualidade e,
para a diminuição das desigualdades de oportunidades, defendendo as chamadas
políticas de ação afirmativa).
Há um processo de privatização em curso, que acontece prioritariamente
no nível superior: há uma expansão de instituições privadas de graduação; a
prioridade que tem sido colocada para este nível é o mero ensino e não a
produção de conhecimento; e, o que é pior, a privatização do ensino superior
constitui-se como mecanismo de seleção por origem de classe e de raça. Nesse
processo, o neoliberalismo brasileiro conta com dois importantes sujeitos
políticos: a Igreja Católica e os empresários de serviços educacionais.
Esse é um importante ponto de reflexão, pois no conjunto dos próprios
cursos pré- vestibulares populares há práticas que são relevantes do ponto de
vista imediato, mas que podem servir ao processo de privatização, na medida em
que são práticas que interessam economicamente às instituições privadas e
alimentam o discurso de que é possível que as classes populares tenham acesso
ao ensino superior através de bolsas de estudo nas instituições privadas.
Coincidentemente ou não, essa busca de bolsas de estudo em instituições
privadas é muito utilizada pelos Cursos Pré-Vestibulares Populares ligados à
Igreja Católica.
As universidades públicas não estão isentas de críticas. Nelas também há
concepções elitistas e práticas discriminatórias que servem à privatização: o
preconceito em relação aos estudantes oriundos de classes populares e grupos
sociais discriminados, a resistência em discutir políticas diferenciadas de
ação afirmativa, a defesa do mérito acadêmico como critério de seleção, a
predominância do discurso que coloca o racismo como uma questão subordinada a
relações de classe.
Além disso, o PVNC tem feito um esforço para fazer-se presente nas
diversas atividades e movimentos do chamado campo democrático e popular da
sociedade organizada, tais como os fóruns do Movimento Negro (estivemos
presentes nas reuniões que produziram propostas para a participação brasileira
na Conferência Mundial de Combate ao Racismo), os Congressos Nacionais de
Educação (CONED), o Fórum Social Mundial, a Campanha Nacional pela Educação
Pública. O PVNC também está empenhado na construção de um movimento organizado
de pré-vestibulares populares que seja expressivo e influente no que diz
respeito à constituição de políticas que ampliem a esfera pública, a
democracia, a socialização da riqueza, do conhecimento e do poder político.
O movimento dos cursos pré-vestibulares populares é um campo de muita
diversidade, em que convivem grupos que fazem um discurso radical em defesa da
educação pública, gratuita e de qualidade e outros que atuam na obtenção de
resultados imediatos, muitas vezes fortalecendo o discurso privativista na
medida em que suas práticas possibilitam dizer que as instituições privadas
podem garantir o acesso de estudantes de classes populares.
Com a tarefa de preparar para o vestibular e tentar facilitar o acesso
dos nossos estudantes à universidade, os Cursos Pré-Vestibulares Populares
mostram que é possível e desejável a reflexão permanente e coletiva no sentido
de elucidar os mecanismos de denominação e exclusão, as relações assimétricas
entre raças, gêneros, culturas e classes sociais, as desigualdades existentes
nas relações sociais e a construção de condições culturais e políticas para
desenvolvimento da democracia e de autonomia individual e coletiva. Queremos
afirmar, com isso, que em uma sociedade desigual e com uma formação histórica
baseada na existência de raças e culturas superiores e inferiores, e em tempos
de políticas neoliberais e de uma globalização econômica devastadora de povos,
culturas e natureza, é urgente que a sociedade organizada em movimentos sociais
aceite o desafio de visualizar relações não excludentes e caminhem no sentido
que busque ampliar a esfera do público e da atuação política da cidadania.
Trata-se de um projeto popular de democratização, que afirme o direito à vida e
proponha políticas de universalização desse direito, de redefinição das
instituições, de ampliação da participação política e, especificamente, de
novos sentidos para a educação, a pedagogia e o currículo, colocando sempre no
centro de suas preocupações os grupos sociais historicamente dominados, discriminados
e desfavorecidos.
A questão racial, os movimentos negros e a cultura afro-brasileira são
centrais nesse processo, pois entender o Brasil e produzir alternativas requer
o entendimento do papel do racismo na produção das desigualdades e a incorporação,
em nossas práticas, das experiências históricas dos quilombos e das dinâmicas
que tornaram vigorosa a cultura brasileira, como o samba, a capoeira, a
religiosidade, a ginga e as formas criativas de resistência. E, se o
"quilombo" é a referência e a perspectiva é a igualdade e a
autonomia, torna-se possível afirmar que a democracia não é, como querem nos
fazer crer, a uma instituição pronta e imutável, baseada em direitos
adquiridos, que deverá ser conquistada. A democracia é projeto e processo, e como
tal só pode ser concebida como uma construção política permanente, como
instituição autônoma da sociedade, como produção coletiva das condições
objetivas e subjetivas de igualdade e autonomia. É a sociedade em movimentos a
única capaz de produzir novas formas e novos sentidos. Os Cursos
Pré-Vestibulares Populares, com todas as dificuldades e antonímias, são parte
dessa dinâmica.
O surgimento do movimento dos denominados "pré-vestibulares
populares" está associado à desigualdade de acesso ao ensino superior
brasileiro, particularmente aos pobres e afrodescendentes. A luta pela
democratização do acesso ao ensino superior abre um debate sobre o próprio
sistema de ensino, pois sua progressiva universalização ainda contrasta com a
qualidade do ensino ofertado à juventude brasileira. Este artigo procura
discutir o papel dos cursinhos populares de Porto Alegre na inclusão de
segmentos sociais historicamente excluídos dos bancos universitários, na
interface teórica entre a Sociologia e a Pedagogia, buscando alternativas
teóricas e práticas para a construção de um ambiente educacional que fomente o
crescimento econômico e tecnológico do país com justiça social.
Os cursinhos populares surgem efetivamente a partir Di final da década
de 1970, contudo, é na década de 1990 que a experiência do pré-vestibular para
negros e carentes (PVNC), no Rio de Janeiro, vai servir de parâmetro para o
grande surgimento dessas iniciativas na atualidade. A pluralidade e a
informalidade, aliadas ao idealismo de alguns estudantes universitários, são
algumas das características marcantes dos cursinhos, o que os tornam laboratórios
de experiências pedagógicas que ainda carecem de um melhor entendimento acerca
das possibilidades e limites que encerram.
Em seu estudo sobre os cursinhos, Castro (2005) aponta quatro fases da
gênese dos cursinhos populares no Brasil: 1) na década de 1950, por meio da
junção dos cursinhos da Faculdade Politécnica da USP e do Centro Acadêmico
Armando Sales de Oliveira, da USP de São Carlos; 2) durante a ditadura militar
(1964-1985), com algumas experiências advindas de movimentos da teologia da libertação
("esquerda católica"); 3)décadas de 1980 e 1990, onde os cursinhos
surgem a partir dos chamados "novos movimentos sociais",
principalmente dentro de universidades públicas e/ou com apoio de
administrações progressistas; 4) década de 1990 em diante, onde os cursinhos se
vinculam a diversos movimentos comunitários, sendo um "encontro" com
as práticas de educação popular presentes nas fases anteriores.
Dessa forma, o trabalho desenvolvido pelos cursinhos populares acontece
por meio de um "duplo movimento", onde a preparação para as provas do
vestibular acontece junto com discussões críticas sobre a realidade social e,
até mesmo, sobre o próprio processo seletivo do vestibular. Em vista disso,
Monteiro (1996) ratifica o desafio dos cursinhos populares: A proposta
metodológica, ideológica e filosófica é de não apenas repassar os
conteúdos programáticos do segundo grau, mas ampliar a discussão de uma
proposta de transformação da sociedade[...]. Nesse sentido a educação para a
cidadania é, também, um desafio e objetivo político dos "prés”. (p.58).
Com base nesses pontos, podemos ver que os cursinhos são manifestações
organizadas que se orientam para um determinado fim, sendo constituídos por
pessoas das mais diferentes concepções políticas e pedagógicas, portanto, com
alto grau de pluralidade em seu corpo docente e de colaboradores, uma
pluralidade política que, segundo Santos (2005, p.4), é composta de "duas
vertentes, a daqueles que politizam sua inserção e a daqueles que negam a
dimensão política de sua atuação, se imbricam na cotidianidade dos cursos,
disputando cada momento de construção das iniciativas".
Os organizadores e participantes dos cursinhos, via de regra, são
estudantes universitários que, conscientes de seu papel na universidade/sociedade,
buscam organizar cursinhos que deem conta de interferir na demanda dos
segmentos populares excluídos do acesso ao ensino superior. Contudo, existe uma
grande pluralidade de visões dentro do cursinho e nem todos os seus
colaboradores são conscientes e politizados, inclusive muitos estudantes
começam a dar aulas nos cursinhos com objetivos que fogem da democratização do
acesso ao ensino superior ou da militância por um mundo menos desigual e
injusto.
Neste ponto, se destacam os professores que visam apenas experiência em
sala de aula e aqueles que, mesmo sendo apenas uma ajuda de custo, realizam o
trabalho, diante da falta de outras oportunidades, como o objetivo de auferir
algum retorno em termos de dinheiro ou até de vale-transporte.
A partir da constatação de uma realidade objetiva de que pobres, negros,
indígenas e estudantes de escolas públicas em geral apresentam muitas
dificuldades para passar pelo vestibular e chegar à universidade,
principalmente nas IES públicas, grupos de pessoas que geralmente viveram essas
dificuldades, mas que, mesmo assim conseguiram entrar na universidade, se
organizam e montam um espaço destinado para a revisão dos conteúdos das provas
do vestibular.
Os mais diversos locais são usados para a "sala de aula" do
cursinho popular: salão paroquial, associação de moradores, escolas públicas ou
privadas e, até mesmo, um espaço em alguma residência. Assim, há um claro componente
de ativismo nessas tentativas de preparação ao vestibular, sendo isso
importante para a mobilização das pessoas, uma vez que o espaço de um cursinho
é uma reunião de sonhos e necessidades que congrega pessoas com trajetórias
similares e que, de alguma forma, não se acomodam diante da estrutura social
que as oprime. Por isso, Sanger (2003) defende que os cursinhos populares são
espaços de socialização e de troca de experiências que em muito ultrapassam a
mera preparação ao vestibular, mexendo na própria autoestima das pessoas.
Como uma das maiores dificuldades no sistema ensino-aprendizagem é a
baixa autoestima e o sentimento de inferioridade que muitos candidatos
apresentam, ao deparar com provas que exigem um grau muito maior de reflexão e
conhecimento, a atuação desses cursinhos na preparação de uma consciência
crítica é muito mais útil do que a “simples” apresentação de conteúdos (SANGER,
2003, p. 98).
O trabalho desenvolvido pelos
cursinhos populares, por meio da socialização oriunda das relações horizontais
de reciprocidade, pode influenciar positivamente as noções psicológicas das
pessoas envolvidas nos projetos. Um dos fatores que faz parte do sucesso em
qualquer atividade humana é autoestima, a consciência de que é possível
fazermos algo que trará benefícios não só particulares (para a própria pessoa
em nível microssistêmico), mas coletivos (para o conjunto da sociedade em nível
macrossistêmico). Algumas pesquisas foram realizadas sobre a relação da
autoestima do estudante com o seu desempenho no vestibular (GOES, 1991;
BARROSO, 1976), mostrando que entre os fatores que influenciam os resultados
dos estudantes a condição socioeconômica assume relevância.
Já na década de 1970, Mosquera (1976) pesquisou as reações e relações
dos adolescentes que frequentavam cursinho em Porto Alegre diante do vestibular
e sua autoestima, constatando que todo o processo do vestibular mexe com a
autoestima das pessoas, sendo que, em relação ao aspecto de classe social, “a
de mais alto nível sócio-econômico-educacional manteve maior autoestima e a de
nível sócio-econômico-educacional mais baixo diminui sua autoestima”. (p.79).
Dessa forma, trabalhando com esse “duplo movimento”, os cursinhos vão
agregando pessoas e ideias. Em novembro de 2005, por exemplo, aconteceu o II
Encontro Regional de Cursos Pré-Vestibulares Populares em Santa Maria- RS,
organizado pelo Alternativa Pré-Vestibular Popular de Santa Maria. Nesse
encontro, talvez o mais importante em número de cursinhos e pessoas
participantes realizado no estado, estiveram presentes coordenadores,
professores e alunos de cursinhos populares de Porto Alegre, Viamão, Pelotas e
Santa Maria.
Os alunos das camadas populares são provenientes
de escolas públicas, e essas, devido à baixa qualidade de ensino oferecida, não
dão base para que os jovens que nelas se formam, possam disputar igualmente em
concursos de seleção para vestibulares da rede pública de ensino superior, com outros jovens que se
formam em escolas particulares e que são preparados para pleitear as vagas disponíveis na rede pública.
Torna-se necessário a preparação para o acesso à universidade pública, que é o
ingresso desses alunos de origem popular em pré-vestibulares. Porém, esses
cursos pré-vestibulares devem ser gratuitos ou cobrarem mensalidades baixas,
para que possibilitem esses alunos de origem popular permanecer estudando.
Daí é que surge o suporte dos cursos
pré-vestibulares, alguns comunitários, que são gratuitos oferecidos
exclusivamente para alunos oriundos das classes populares, tendo seu
funcionamento dentro das comunidades, sob organização de líderes comunitários
ou instituições que trabalham no sentido de apoio as classes populares. Como é
o Caso da Universidade Federal Fluminense situado em Niterói Rio de Janeiro que
mantém vários cursos pré-vestibulares. Outros são cursos pré-vestibulares
proporcionados pelos sindicatos ou empresas particulares para poder fornecer
melhores condições a seus funcionários e familiares.
Os cursos particulares que devido ao fato da
cobrança de mensalidade, são frequentados por uma minoria dos alunos de origem
humilde ou popular, porque muitas vezes, o pagamento da mensalidade está fora
das condições orçamentárias familiar desses alunos. Sendo possível, portanto, o
acesso somente aos alunos que trabalham ou aqueles que recebem algum tipo de
apoio financeiro, para o custeio de seus estudos.
O empenho para ingressar e permanecer em curso
pré-vestibular é visto como um esforço a mais, realizado pelos alunos de origem
popular, concomitantemente com a família, pois essa investe e aposta na
aprovação de seu membro em um concurso de vestibular de preferência da rede
pública.
Apresentaremos parte dos resultados de uma
pesquisa realizada no Curso Pré-Vestibular Cidadania, destacando a composição
social de seu público e seu projeto voltado para uma políticade redução das
desigualdades educacionais.
Destina-se à populaçãode origem negra e aos
jovens de baixo poder aquisitivo. Assim como em outros projetos, fica explícita
a proposta de umtrabalho que vincula teoria e prática e não se limita à
preparação para o examevestibular, mas dedica-se à formação no seu sentido mais
amplo, como apromoção do espírito crítico e o exercício da cidadania.
Conforme seu projeto, o curso tem duração anual,
num total de800 horas/aula, com planejamento e avaliação semestral e
funcionamentonoturno e aulas de revisão aos sábados. Compõem a grade curricular
asdisciplinas do ensino médio (Português, Literatura e Redação,
Matemática,Física, Biologia e Química, Língua Estrangeira, Geografia, História)
ea disciplina “cidadania e cultura”, presente também em outros cursos.
“Como indica a bibliografia consultada sobre
outros cursos no país,na sua grande maioria eles funcionam no período noturno
ou aos sábados,e são experiências que sobrevivem do trabalho voluntário de
professorese outros membros responsáveis pela coordenação entre outras funções.
Uma pesquisa realizada com 22 professores do PVNC no Rio de Janeiro,mostra que
o corpo docente é composto em sua grande maioria por ex-alunos de algum núcleo
do PVNC, de modo geral jovens (entre 23-28anos), em sua maioria cursando
graduação ou pós-graduação ou que jáconcluíram esses cursos e mantém algum
vínculo empregatício fora dessaatividade voluntária. (CANDAU, apud OLIVEIRA,
2001, p. 111). Considerando a forte demanda de candidatos, há um processo
deseleção que leva em conta a condição econômica, ser egresso da redepública
(exceção aos bolsistas) além do interesse e afinidade com o projeto.
Cursos pré-vestibulares populares: limites e
perspectivas. Tem ainda como critério conceder prioridade a estudantes
origináriosde comunidades organizadas. Após a seleção permanece uma relação
daqueles que não foram contemplados na primeira chamada e estes
poderãopreencher as vagas criadas pelas desistências que ocorrem durante o ano.
Outros Estados do país também oferecem
cursos pré-vestibulares para pessoas de baixa-renda.
1) ALAGOAS
·
Pré-Uneal
O projeto busca a igualdade de
oportunidades para os alunos da rede pública de ensino da região de Arapiraca e
Palmeira dos Índios.
·
Pré-Vestibular MedEnsina
Cursinho é um dos programas da
Pró-Reitoria de Extensão da Uncisal, em Maceió.
2) AMAPÁ
·
CPV Negros
Desenvolvido pela UNIFAP, o projeto é
voltado para estudantes carentes negros e estudantes de escolas públicas.
3) BAHIA
·
Pré-Vestibular Oficina de Cidadania
Cursinho ministrado em Salvador é
exclusivo para quem cursou os últimos anos do ensino fundamental e todo o
ensino médio na rede pública.
·
Pré-Vestibular Social Estação do Futuro
Mantido por ex-alunos da UNEB, o curso
abre seleção semestralmente.
·
Pré-Vestibular Social ONG Pierre Bourdieu
Atende, por ano, 200 alunos de escolas
públicas em Salvador interessados em participar de vestibulares concorridos.
·
Pré-Vestibular Social Zeferina
Criado pela Associação dos Ex-Alunos da
Uneb, cursinho abre inscrições em fevereiro e maio.
·
Universidade para Todos
Aulas gratuitas para alunos que cursaram
desde a 5ª série em escolas públicas
4) CEARÁ
·
Curso XII de Maio
Mantido por alunos pela Faculdade de
Medicina da UFC.
·
UECEVest
Cursinho pré-vestibular da UECE oferece
1.500 vagas por semestre para alunos de baixa renda.
5) DISTRITO FEDERAL
·
Vestibular Cidadão de Brasília
Cursinho pré-vestibular gratuito é
mantido por voluntários e alunos da Universidade de Brasília (UnB).
6) GOIÁS
·
Comunidade FazArte
Pré-vestibular comunitário é um projeto
de extensão da UFG.
·
Projeto Educação Aberta (PrEA)
Cursinho foi criado em 2011 por alunos e
ex-alunos da UEG.
7) Maranhão
·
Pré-Vestibular Projedis
Cursinho é oferecido de forma gratuita os
moradores da ilha de São Luís.
8) MATO GROSSO
·
Cuiabá-Vest
Cursinho é mantido pela Fundação
Educacional de Cuiabá e possui 12 turmas localizadas em nove endereços na
cidade.
Pré-Vestibular UNE-Todos
Projeto da Unemat oportuniza grupos
minoritários que concorrerão ao processo seletivo da instituição.
9) MATO GROSSO DO SUL
·
CEPV
Pré-vestibular reserva de vagas para
estudantes indígenas, afrodescendentes e portadores de necessidades especiais.
·
Cursinho Tentáculos
Pré-Vestibular é um projeto de extensão
da Universidade Federal da Grande Dourados.
10) MINAS GERAIS
·
Cursinho de Educação Popular (CEP) da UFTM
Pré-vestibular é voltado para pessoas de
baixa renda que fizeram o ensino médio em escolas públicas.
·
Curso Pré-Universitário Popular da UFJF
Projeto oferece, anualmente, 180 vagas
para estudantes de escolas públicas de Juiz de Fora.
·
Curso preparatório para o Enem da Unifal
Cursinho é voltado para estudantes de
escolas públicas que almejam vaga em universidade ou certificado de conclusão
do ensino médio.
·
Futuro Pré-Vestibular
A ideia que surgiu sem pretensões hoje
ajuda 80 alunos carentes da região de Uberlândia.
·
PRÉ-UFMG
Cursinho possui três unidades e conta
com alguns projetos que beneficiam a comunidade local.
11) PARÁ
·
Cursinho Alternativo
Projeto do Grupo de Pesquisa em Ciências
da Universidade do Estado do Pará.
·
Projeto Universidade Aberta
Cursinho é coordenado pelo Programa de
Educação Tutorial de Física (PET-Física) da UFPA.
12) PARAÍBA
·
Conexão de Saberes UFPB
Curso é ministrado por alunos e
professores da Universidade Federal da Paraíba.
·
Cursinho Pré-Vestibular da UEPB
Projeto oferece 1.100 vagas para alunos
carentes da rede pública pertencentes à região de Campina Grande.
·
Pré-Vestibular Solidário de Bananeiras
Projeto é coordenado pelo Centro de
Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, no Campus III da Universidade Federal da Paraíba.
13) PARANÁ
·
Cursinho UEM
Também funciona com cotas: são 20% de
vagas reservadas para indígenas ou afrodescendentes e outros 5% para
deficientes visuais.
·
Curso Pré-Vestibular da Unicentro
Cursinho gratuito oferece 100 vagas por
semestre para estudantes ou egressos de escolas públicas em Guarapuava.
·
Em Ação
O cursinho é uma parceria entre a UFPR e
uma organização não governamental.
·
Pré-Vestibular da Unioeste
O curso também atende alunos surdos e
com limitações visuais.
·
Pré-Vestibular ONG Formação Solidária
Pré-vestibular atende cerca de 160
alunos de Curitiba e Região Metropolitana a cada ano.
14) PERNAMBUCO
·
Grupo de Apoio Preparatório
O curso tem mensalidades de até R$ 35,
sendo que 15% de seus alunos são isentos dessa taxa.
·
Pré-Acadêmico Atitude
Aulas são ministradas nos finais de
semana. Curso é gratuito e cobra apenas taxa de R$ 15 para inscrição no
processo seletivo.
·
Pré-Acadêmico Vestibular Solidário
Aulas do cursinho são gratuitas e
realizadas no Centro de Educação da UFPE, em Recife.
·
Prevupe
Aulas são ministradas em 32 municípios
do Estado de Pernambuco, com oferta maior de vagas em Recife, Garanhuns e
Nazaré da Mata.
·
Vestibular Cidadão
Voltado para estudantes e ex-alunos de
escolas públicas de Recife.
15) PIAUÍ
·
Projeto Pré-Enem (UFPI)
Mantido pela Universidade, o programa
beneficia dezenas de alunos.
·
Vencendo o Vestibular
O projeto oferece aos estudantes
carentes de Teresina a oportunidade de fazer um preparatório para o vestibular.
16) RIO DE JANEIRO
·
Cursinho pré-vestibular SamoraMachel da UFRJ
Projeto auxilia 240 estudantes carentes
por ano
·
Pré-Universitário Popular Práxis da UFF
Cursinho é voltado para estudantes de
escolas públicas e bolsistas de colégios particulares.
·
Pré-Vestibular do GCAP-RJ
Projeto social oferece aulas na Rocinha,
Piedade, Engenho de Dentro, Camarista Méier e Vidigal.
·
Pré-Vestibular para Negros e Carentes (PVNC)
O movimento atua na preparação para os
vestibulares das universidades públicas e Enem.
·
Pré-Vestibular Social Casa do Mestre
O cursinho surgiu da necessidade de
oferecer meios de estudo para a comunidade a seu redor.
·
Pré-Vestibular Social do Cederj
São 56 unidades distribuídas em 37
municípios do Rio de Janeiro. Curso, matrícula e material didático são
totalmente gratuitos.
·
Saber para Mudar
O pré-vestibular mantido pela UERJ
completa 16 anos de existência.
17) RIO GRANDE DO NORTE
·
Cursinho do DCE
Com aulas realizadas pelo corpo docente
da UFRN, pré-vestibular foi criado em 1997.
18) RIO GRANDE DO SUL
·
Cursinho PEAC - UFRGS
O Pré-vestibular PEAC oferecido pela
UFRGS oferta 180 vagas. Intenção é possibilitar entrada de estudantes de baixa
renda no ensino superior.
·
Curso Pré-Vestibular Popular
O cursinho da ONGEP oferece preços
bastante razoáveis para seus alunos e atua no centro de Porto Alegre.
·
Grupo de Estudos Paidéia
Cerca de 60 alunos são selecionados todo
ano para o cursinho, que funciona em Rio Grande.
·
Pré-Vestibular do POD
Cursinho ministra aulas para estudantes
egressos de escolas públicas, em 27 municípios do Rio Grande do Sul.
·
Pré-Vestibular Popular Alternativa
É um projeto de extinção da UFSM que
oferece 150 vagas anuais.
·
Pré-Vestibular Resgate Popular
Projeto social atende estudantes de
baixa renda de Porto Alegre, cobrando mensalidade de apenas R$ 10.
·
Preparatório Fênix
O curso atende a estudantes de baixa
renda do entorno do Campus Carreiros da FURG.
19) RONDONIA
·
Projeto Superação
Pré-vestibular é mantido pela Secretaria
Municipal de Educação de Porto Velho.
20) SANTA CATARINA
·
Pré-Vestibular Comunitário Udesc
Cursinho é um projeto de extensão do
Centro de Educação Superior da Foz do Rio Itajaí (CESFI), em Balneário
Camboriú.
·
Pró-Universidade, antigo Pré-vestibular da UFSC.
Pensando por um ex-estudante da
universidade, o cursinho é a realização de um sonho.
21) SÃO PAULO
·
Arcadas Vestibulares
Surgiu em 2011 e é coordenado por alunos
da Faculdade de Direito da USP.
·
CUJA
Pré-vestibular é mantido por graduandos
e pós-graduandos da Universidade Federal de São Paulo.
·
Cursinho Alternativo da Unesp de Marília (CAUM)
Aulas são gratuitas e ocorre de segunda
a sexta, no período noturno, na Faculdade de Filosofia e Ciências.
·
Cursinho da FEA-USP
Projeto sem fins lucrativos oferece
aulas gratuitas para interessados em fazer vestibular ou Enem.
·
Cursinho da Psico
Aulas são ministradas por estudantes da
USP durante seis dias da semana.
·
Cursinho Henfil
Pré-vestibular tem unidades em São
Paulo, Tatuapé, Osasco, Guarulhos, São Bernardo, Santo André, Mauá e Diadema.
·
Cursinho Popular do PET-Medicina
Coordenação do curso pré-vestibular é
feita pelos alunos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
·
Cursinho Popular dos Estudantes da USP (ACEPUSP)
O Cursinho da ACEPUSP tem mensalidades a
partir de R$ 100 e oferece diversas atividades complementares ao estudo.
·
Cursinho Pré-vestibular do DACA
Semiextensivo ministrado por alunos
voluntários da graduação ou pós-graduação em Odontologia e Medicina Veterinária
da UNESP.
·
Cursinho Rosa Luxemburgo
Pré-vestibular foi criado por estudantes
do campus de Presidente Prudente da Unesp.
·
Cursinhos Uneafro Brasil
São 42 núcleos distribuídos em 19
cidades paulistas.
·
Curso Alberto Santos Dumont - CASD
Fundado e administrado por alunos de
graduação do ITA. Professores também são do Instituto e de outras universidades
do estado.
·
Curso Metamorfose
Com sede na unidade da UNESP, em São
José do Rio Preto, o pré-vestibular abre 90 vagas a cada ano.
·
Curso Popular Mafalda
Pré-vestibular gratuito atende a
estudantes de baixa renda das zonas leste e sul de São Paulo.
·
Curso pré-vestibular Colmeia
Projeto da Faculdade de Ciências
Aplicadas da Unicamp auxilia estudantes de baixa renda de Limeira.
·
Educafro
O cursinho fica na capital paulista e
sua mensalidade nunca ultrapassa 5% do valor do salário mínimo.
·
Gera Bixo
O cursinho pré-vestibular é mantido por
estudantes da Universidade Estadual Paulista, Unesp.
·
Marie Curie Vestibulares (MACVEST) – Lorena
Cursinho gratuito é mantido por alunos
voluntários da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo
(EEL/USP).
·
MedEnsina
·
Uma extensão cultural da Faculdade de Medicina da USP em parceria com o
Centro Acadêmico Oswaldo Cruz.
·
Pré-Vestibular da UFSCar
A cada ano, o cursinho oferece mais de
300 vagas.
·
Pré-vestibular do XI
O preparatório é mantido pelo Centro
Acadêmico de Direito da USP.
·
PreVest Unesp
Professores são os alunos de graduação
da Faculdade de Odontologia da Unesp e da Faculdade de Engenharia do ITA.
·
Pró-Universidade
Cursinho é coordenado pela USP Leste e
atende somente estudantes dessa região da cidade. Aulas são ministradas por
alunos da universidade.
22) SERGIPE
·
Pré-Vestibular UFS
Há uma porcentagem de vagas reservadas
para a comunidade interna.
O acesso à Universidade através do
vestibular talvez seja a passagem mais difícil de todo o sistema educacional,
pois o vestibular coloca em condições igualitárias de candidatos indivíduos
oriundos de grupos sociais distintos e que obtiveram, em sua trajetória social,
oportunidades distintas. Acredita-se que as universidades podem e devem cumprir
um papel relevante na superação das desigualdades sociais, especialmente em
relação à busca do acesso ao ensino superior.
Uma metodologia que desenvolva um
“trabalhar” que repasse os conteúdos das disciplinas tradicionais pela cultura
e pela cidadania. A equipe do pré-vestibular é composta de professores e alunos
da universidade, professores aposentados, alunos de universidades diversas e
voluntários da comunidade. O processo de seleção dos alunos é realizado uma vez
por ano, geralmente no mês de fevereiro, com divulgação nos meios de
comunicação e cartazes encaminhados as escolas públicas de ensino médio,
preferencialmente das cidades de Niterói e São Gonçalo. Aos alunos da
universidade exige-se como único critério de seleção o desejo de participar da
experiência, desta maneira tem-se, anualmente, um corpo de universitários que,
ao ultrapassar as necessidades das salas de aula, permite o desenvolvimento de
outras atividades, tais como monitorias. As atividades desenvolvidas pelos
universitários, de ensino e extensão, estão em fase de serem consignados como
atividade complementar ao currículo do mesmo. A partir de um levantamento de
diagnóstico e dos conteúdos já dominados pelos alunos, principalmente com
relação às disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Os licenciados/alunos
universitários elaboram um plano de atividades semanal, sob a orientação de
professores das áreas específicas e elabora-se a programação anual dos
conteúdos, seguindo os programas dos vestibulares das principais universidades
públicas do estado do Rio de Janeiro. Faz-se a organização de apostilas,
materiais de apoio, elaboração de simulados. As aulas, com duração média de 90
minutos cada, procuram adequar os conteúdos desenvolvidos às exigências dos
programas dos vestibulares das universidades públicas. São ministradas de
segundas às sextas-feiras, das 18h30min às 22h00min horas e aos sábados, das oito
ás 12 horas, totalizando 20 horas semanais. A metodologia das aulas consiste de
aulas expositivas, mescladas com atividades em grupos. As aulas aos sábados são
complementadas com exibição de vídeos sobre história, geografia e literatura. É
discutido também, as intervenções necessárias ao processo ensino-aprendizagem,
bem como previsões de mudanças tanto na prática diária, buscando implementar
meios de concretizar na sala de aula as discussões geradas nas reuniões.
O estudo realizado teve como objetivo final
delinear o perfil dos alunos evadidos dos cursos pré-universitário durante o
ano de 2010 para frente, e na medida do possível, construir um plano de metas,
a fim de reduzir a ocorrência de novas evasões nos anos seguintes.
O trabalho se caracteriza por ser uma
coleta de dados, o que não nos permite usar os resultados alcançados para fazer
inferências. Podemos afirmar que os resultados obtidos retratam o que a
literatura a respeito do tema tem considerado, ou seja, que a evasão entre
estudantes das camadas mais populares está mais relacionada ao contesto
socioeconômico do que as opções individuais de cada um.
A técnica estatística do qui-quadrado
como método de análise revelou-se extremamente eficaz para o estudo, visto que
os resultados obtidos não seriam alcançados simplesmente pela observação das
quantidades.
As correlações obtidas com respeito às
evasões e demais variáveis sócias econômicas relativas aos alunos do curso
suscitam reflexões variáveis sócios econômicos relativos aos alunos do curso
suscitam reflexões que acreditamos poder contribuir para comparação com outros
trabalhos.
Com respeito à variável escola e evasão,
há certa unanimidade em considerar que as escolas particulares oferecem uma
formação de maior qualidade do que as escolas públicas. Em nosso trabalho, essa
realidade não se confirmou. Ao analisarmos os dois grupos, eles se assemelham
tanto no que se refere ao diagnóstico inicial quanto ao processo de evasão.
Tal resultado pose estar revelando
alguns dados a que devemos estar atentos. Será que na ânsia de oferecer o
melhor para os filhos os pais não se apercebem da camuflagem do mercado de
educação? Será que o serviço público não se faz presente junto à população a
ponto de interferir em suas opiniões sobrea educação pública? Será que a
qualidade da educação deve ser avaliada a partir de outras bases que não a
escola pública ou particular?
A diferença significativa entre os
fatores que incidiram sobre o processo de evasão revelam o drama vivido pelos
jovens que frequentaram o curso em 2006. Em sua maioria, evadiram do curso por questões
financeiras ou por necessidade de acesso ao mercado de trabalho. Considerando o
perfil sócio econômico dos jovens que frequentaram o curso, podemos concluir
que a ruptura necessária para que ocorresse o aumento de escolaridade muitas
das vezes no seio familiar, foi adotada pela necessidade do sustento próprio,
do complemento da renda familiar ou por o jovem não ter como custear as
despesas relacionadas à frequência ao curso. Toda a trajetória de investimento
das famílias para que os jovens concluíssem o ensino médio não tem continuidade
por questões materiais. São impasses e devem ser discutidos, para que sejam minimizados,
viabilizando arranjos econômicos no plano das cidades.
As demais varáveis – renda per capita,
sexo, faixa etária, ano de conclusão do ensino médio e cores revelam pouco
significativas no processo de evasão, podem estar sinalizando o efeito do
processo de seleção do curso. Para maior reflexão, seria necessário fazer
comparações com outros estudos que abordassem a mesma temática.
As diferenciações reveladas pela associação
de evasão com os locais de moradia- como a Universidade Federal fica situada em
Niterói, temos dois municípios muito próximos, Niterói e São Gonçalo –
sinalizam sutilezas e devem ser mais apuradas, para que haja um entendimento
mais detalhado da diferenciação sinalizada com respeito a São Gonçalo. Qual o
peso do transporte público no processo de evasões entre os alunos de São
Gonçalo? Qual diferenciação da renda per
capita entre as duas cidades?
A relação significa entre evasão e
período do ano ilustra bem a situação dos jovens que foram atendidos pelo
curso. Sabemos como é injusto o processo
de seleção para acesso ao ensino superior no país, tendo em vista que pressupõe
uma igualdade entre os candidatos das mais diversas origens sócios econômicos,
que competem entre si por uma vaga no ensino superior. O fato de o mês de julho
aparecer como o período de maior evasão do curso sinaliza para um possível
efeito do concurso de vestibular da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro/UERJ. A primeira etapa de seleção da UERJ, que ocorre no primeiro
semestre, encontra um alunado ainda no início de seu processo de preparação,
pois estão recém-chegados de um ensino médio capenga Falta-lhes ainda o
amadurecimento necessário para a compreensão do processo de seleção como um
todo, assim como equilíbrio emocional diante dos desafios a serem enfrentados
num período de tempo tão curto. Logo, seria importante criarem-se estratégias
de apoio emocional e não se ater à ilusão de recuperar em tempo mínimo o que
não foi trabalhado em anos de estudos.
Esperamos que este estudo seja um
estímulo e um auxílio a outros trabalhos que busquem a desejada educação para
todos. Como afirma Moacir Gadotti:
[...] “Educação para todos”, significa
acesso de todos à educação, independente de posição social ou econômica, acesso
a um conjunto de conhecimentos e habilidades básicas que permitam a cada um
desenvolver-se plenamente, levando em conta o que é próprio de cada cultura [...]
(Gadotti, 1992, P.21).
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Acessado em 03/04/2014, às 16h27min.
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