1. INTRODUÇÃO
O ambiente empresarial tem buscado a
competitividade em virtude das profundas mudanças ocorridas na economia
mundial, nas relações sociais e políticas, na tecnologia, na organização
produtiva e nas relações de trabalho.
No Brasil, essas transformações
assumiram expressão maior com a abertura abrupta da economia, da implementação
dos programas de estabilização monetária e das reformas constitucionais que
visam à redução e à reorientação do papel do Estado na economia. Todas essas
mudanças proporcionam um ambiente socioempresarial em ebulição, onde, os
fatores conjunturais de sobrevivência muitas vezes se sobrepõem aos objetivos
de mudanças de longo prazo na sociedade que conduzam, efetivamente, a melhorias
de condições de vida e bem-estar dos cidadãos.
Segundo Albuquerque (1992), dentro
desse contexto, no qual as organizações buscam produtividade e processos de
mudança que tenham o objetivo de melhorar seu posicionamento competitivo no
mercado, a qualidade de vida no trabalho (QTV) vem ganhando espaço como valor
intrínseco das práticas de competitividade de forma simultânea ao bem-estar organizacional.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 CONCEITOS E ABORDAGENS
Segundo Limongi-França (1996),
qualidade de vida no trabalho é o conjunto das ações de uma empresa no sentido
de implantar melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no
ambiente de trabalho.
Para Milkovich (2000), essa idéia
parte do pressuposto que os empregados de chão de fábrica, apropriadamente
treinados, podem estar na melhor posição para identificar problemas
despercebidos com a qualidade dos produtos.
Já segundo Goulart e Sampaio (1999,
p.320), a QVT consiste em uma intervenção na organização e no processo de
trabalho e, portanto, não se reduz ao cumprimento de leis ou à discussão de
direitos dos trabalhadores. Trata-se de interferir nos "processos mentais"
e nos padrões culturais das organizações, visando a uma conscientização,
amadurecimento e transformação da cultura organizacional. Em outras palavras,
os valores e as crenças das organizações precisam ser repensados, revisados e,
quem sabe, modificados ou atualizados.
Albuquerque e França (1998, p.41)
complementam afirmando que a QVT pode ser entendida como um conjunto de ações
de uma empresa que envolvem diagnóstico e implantação de melhorias e inovações
gerenciais, tecnológicas e estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho,
visando a propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para e durante a
realização do trabalho.
Novos paradigmas de modos de vida
dentro e fora da empresa, construindo novos valores relativos às demandas de
qualidade de vida no trabalho, estão sendo estruturados por diversos segmentos
da sociedade e do conhecimento científico, entre os quais se destacam:
·
Saúde: visa preservar a
integridade física, psicológica e social do ser humano em vez de apenas atuar
somente sobre o controle de doenças e propiciar maior expectativa de vida e
reintegração profissional da pessoa que adoece.
·
Ecologia: ciência em que o homem
é parte integrante e responsável pela preservação do ecossistema e dos insumos
da natureza, bem como ator do desenvolvimento sustentável.
·
Ergonomia: estuda as condições de
trabalho ligadas à pessoa.
·
Psicologia: demonstra a
influência das atitudes internas e as perspectivas de vida da pessoa e a
importância do significado intrínseco das necessidades individuais para seu
envolvimento com o trabalho em conjunto com a filosofia.
·
Sociologia: atua sobre a dimensão
simbólica do que é compartilhado e construído socialmente, demonstrando as
implicações de quem influencia e é influenciado nos diversos contextos culturais
e antropológicos da empresa.
·
Economia: enfatiza a consciência
de que os bens são finitos e de que a distribuição de bens, recursos e serviços
deve envolver de forma eqüitativa a responsabilidade e os direitos da
sociedade.
·
Administração: procura aumentar a
capacidade de mobilizar recursos para atingir resultados em ambiente cada vez
mais complexo, mutável e competitivo.
·
Engenharia: elabora formas de
produção voltadas para a flexibilização da manufatura, armazenamento de
materiais, uso da tecnologia,
organização do trabalho e controle de processos.
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Segundo Limongi-França e Arellano
(2002 , p.297), o conceito de qualidade de vida no trabalho tem sido avaliado e
questionado através dos anos, definindo-se não como modismo passageiro, mas
como um processo que consolida a busca do desenvolvimento humano e
organizacional.
Walton (1973), um dos pesquisadores
pioneiros da sistematização dos critérios e conceitos de QVT, define-a como
algo além dos objetivos da legislação trabalhista, surgido no começo do século
XX com a regulamentação do trabalho de menores, da jornada de trabalho e
descanso semanal e das indenizações por acidentes de trabalho.
A QVT também está relacionada com os
objetivos do movimento sindical após a grande crise dos anos 1930, que se
centraram na segurança e na salubridade do trabalho, no tratamento dispensado
ao trabalhador e no aumento de salários. É também associada ao enfoque da
psicologia surgido na década de 1950, em que se considera a existência de uma
correlação positiva entre estado de ânimo e produtividade e afirma-se que é
possível elevá-los mediante a melhoria das relações humanas. Faz parte dos
novos conceitos da década de 1960, como a igualdade de oportunidades e os
inumeráveis esquemas de enriquecimento do trabalho. Desta forma, pode-se
definir QVT como a junção desses movimentos reformistas mais as necessidades e
aspirações humanas, como o desejo de trabalhar para um empregador que possua
sensibilidade social.
Para Walton (1976), a QVT deve Ter
como meta a geração de uma organização mais humanizada, na qual o trabalho
envolva relativo grau de responsabilidade e de autonomia no que se refere a
cargo, recebimento de recursos de feedback do desempenho, tarefas adequadas,
variedade, enriquecimento do trabalho e ênfase no desenvolvimento pessoal do
indivíduo.
Segundo Chiavenato (2004, p.368), a
preocupação da sociedade com a qualidade de vida das pessoas deslocou-se há
muito pouco tempo para a situação de trabalho, como parte integrante de uma
sociedade complexa e de um ambiente heterogêneo. A QVT assimila duas posições
antagônicas: de um lado, a reivindicação dos empregados quanto ao bem-estar e
satisfação no trabalho; e, de outro, o interesse das organizações quanto a seus
efeitos potenciadores sobre a produtividade e qualidade.
Nadler e Lawler (1983), ao analisar
as origens do movimento da qualidade de vida no trabalho, descrevem a primeira
fase da QVT, de 1969 a 1974, como um período em que grande número de
pesquisadores, acadêmicos, líderes sindicais e representantes do governo,
preocupados com a relação entre os efeitos das atividades profissionais sobre a
saúde e o bem-estar das pessoas e sua satisfação no trabalho, começaram a se
interessar pelas formas de influenciar a qualidade das experiências vividas
pelas pessoas durante o período de trabalho.
Tais características do movimento
perduraram até meados da década de 1970, época em que sofreu uma baixa, uma vez
que nos Estados Unidos as atenções foram desviadas para problemas como inflação
e custos de energia. A partir de 1979, surgiu novo interesse na QVT, estimulado
pela competição internacional.
Muitos dos programas de QVT
iniciados na década de 70 foram abandonados, segundo Milkovick ( 2000, p.478).
Eles enfrentaram os seguintes problemas:
·
O esforço para a mudança é
isolado – seja confinado em um setor específico da empresa ou tratado como
experimentação.
·
A mudança é isolada – não há
modificação na hierarquia e nos modelos de tomada de decisão para dar apoio à
nova abordagem.
·
O envolvimento dos empregados
limita-se a uns poucos aspectos que não estão ligados a como o trabalho vem
sendo de fato realizado ou a decisões negociais críticas.
·
Os diretores e gerentes não estão
envolvidos no esforço de mudança e por isso reagem negativamente à participação
dos empregados.
2.3. QUALIDADE DE VIDA NO
BRASIL
Somente na década de 1990, ganharam
importância e velocidade as pesquisas e a procura, por parte das empresas, de
profissionais que as oriente para adotar medidas voltadas para a QVT. Isso se
deve, em parte, ao somatório de problemas, como acidente e doenças
ocupacionais, bem como reclamações na justiça ( e todo o custo envolvido), mas
também à legislação mais específica que surgiu nessa época.
Segundo Cañete ( 2004 , p.401), a
Associação Brasileira de Qualidade de Vida, com sede em São Paulo, instituiu o
Prêmio Nacional de Qualidade de Vida. Em 1999, algumas das empresas premiadas
foram a Weg, Abril, Alcoa, Asea Brow Boveri, Bank Boston, Prefeitura de
Curitiba, Siemens.
A Avon vem sendo considerada um
exemplo com a sua abordagem multidisciplinar voltada para a qualidade de vida,
e a Natura recebeu destaque na revista Exame (21/02/2006) como uma das cinco
fábricas mais modernas do Brasil, totalmente projetada para respeitar as
necessidades humanas e ambientais, além de ser um exemplo de gestão avançada e
voltada para a QVT e a qualidade de vida global.
Cañete (2004) afirma que no Brasil,
qualidade de vida e Qualidade de Vida no Trabalho é, acima de tudo, um
"desafio cultural". Precisamos inserir em nossa mentalidade, em nosso
modo de pensar, a cultura da "Qualidade de Vida". Isso significa que
temos um processo árduo, longo e duradouro pela frente, como desafio para todos
nós, independentemente da área em que atuamos. Cada vez mais, esse tema passa a
ser responsabilidade de cada um e de todos.
O que observamos nas empresas
brasileiras, segundo Cañete (2004), em sua maioria, são ensaios, tentativas de
aproximar-se um pouco mais de novas tendências, com está sendo vista a
Qualidade de Vida. Falta informação, falta consciência e, portanto, falta
compromisso para com os valores e atitudes pertinentes a essa filosofia. Um
grande número de empresas adota práticas legais, como alguns tipos de
benefícios, e chamam isso de Programa de Qualidade de Vida no Trabalho. Outras
empresas até adotam algumas práticas concernentes à QVT, mas não têm políticas
de QVT formalizadas, e suas ações não atingem, muitas vezes, todos os níveis
hierárquicos ou todos os grupos da empresa.
As empresas que mais evoluíram nos
últimos anos, no país, em termos de QVT, chegando a definir políticas
específicas e a incluí-las em seu planejamento estratégico de RH e corporativo,
são justamente as empresas multinacionais e de grande porte, que também adotam,
há mais tempo, formas de gestão mais avançados e padrões de qualidade altamente
competitivos e compatíveis com as exigências do mercado internacional.
Em países desenvolvidos, como EUA e
Inglaterra, cresce a cada dia o número de casos de profissionais que entram na
Justiça com processos trabalhistas visando receber uma indenização por danos
temporários ou permanentes, causados pelo exercício de suas atividades laborais
a que foram submetidos. Como também cresce o número de advogados especializados
nesta área e cresce a "consciência dos empresários sobre o quanto pode
lhes doer e pesar no bolso esse tipo de situação.
No Brasil, desde 1995, contamos com
o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, que, juntamente com outras ONGs,
fundações e agências de responsabilidade social, vem agindo de forma decisiva
para transformar a realidade social brasileira. Isso só acontecerá à medida que
se crie a massa crítica necessária de pessoas, empresas, instituições, agentes
governamentais conscientes e comprometidos com as mudanças.
2.4 RESPONSABILIDADE E
QUALIDADE DE VIDA
A conquista de
uma qualidade de vida depende, em grande parte, da conscientização e do
compromisso das empresas. É fundamental que elas assumam sua parcela de
responsabilidade diante dos problemas e necessidades enfrentados na atualidade,
com relação à saúde global, ao equilíbrio ecológico e à sobrevivência e
desenvolvimento auto-sustentável de todos.
As
organizações estão buscando, mais do que nunca, pessoas criativas e inovadoras,
capazes de manter um alto desempenho e de trazer soluções para os problemas,
mesmo convivendo em um ambiente de crescentes turbulências e constantes
mudanças. As empresas procuram profissionais capazes de manter alta performance
e, ao mesmo tempo, alto grau de equilíbrio e saúde.
Os
profissionais procuram empresas que sejam capazes de lhes oferecer um ambiente
saudável, um clima de apoio, incentivo, respeito e valorização e oportunidades
de desenvolvimento e de realização do seu potencial, do seu propósito e plano
de vida. Eles procuram empresas socialmente responsáveis.
Para que ambos
possam alcançar seus anseios, é necessário que amadureçam e que desenvolvam sua
inteligência emocional, a qual implica uma quebra de barreiras, uma aproximação
e conhecimento mútuos, cada vez mais profundo, até que se criem algumas
condições básicas, como consciência emocional de si e do outro, expressão
emocional, diálogo autêntico e confiança, segundo Cañete ( 2004 , p. 403)
3 CONCLUSAO
A qualidade de
vida no trabalho vem conquistando espaço cada vez maior no ambiente empresarial
brasileiro dentro das estratégias de gestão de pessoas. Seja por aumentar a
produtividade, ou como peça importante na competitividade e da modernidade da
gestão de pessoas, ou no atendimento a exigências dos clientes, o fato é que,
por meio de melhorias das condições de trabalho, os resultados obtidos podem
ter alcançado os objetivos empresariais, auxiliando a organização a enfrentar o
ambiente competitivo e a comprometer as pessoas com o negócio da empresa.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE,
L. G. Competitividade e Recursos Humanos. Revista de Administração da USP. São
Paulo: Editora USP, 1992
BITENCOURT,
Cláudia (org.) / CAÑETE, Ingrid. Gestão contemporânea de pessoas – novas
práticas, conceitos tradicionais. Porto Alegre: Ed. Bookman, 2004.
CHIAVENATO,
Idalberto. Gestão de Pessoas – O novo papel dos recursos humanos nas
organizações. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999
CHIAVENATO,
Idalberto. Recursos Humanos – O capital humano das organizações. São Paulo: Ed.
Atlas, 2004
FRANÇA, A. /
RODRIGUES, A. Stress e trabalho. 2º edição. São Paulo: Atlas, 1999
LIMONGI-FRANÇA,
A. C. Indicadores empresariais de qualidade de vida no trabalho : esforço
empresarial e satisfação dos empregados no ambiente de manufatura com certificação
ISO 9000. São Paulo: FEA-USP, 1996. Tese de doutorado.
LIMONGI-FRANÇA,
Ana Cristina / ARELLANO, Eliete Bernal. Qualidade de Vida no Trabalho. As
Pessoas na Organização. São Paulo: Editora Gente, 2002
MILKOVICH,
George T. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 2000
SAMPAIO, Jader
dos Reis (org) / GOULART, Íris Barbosa. Qualidade de vida, saúde mental e
psicologia social. São Paulo: Ed. Casa do Psicólogo, 1999
Ano: 2009
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